Aos 84 anos, o artista Maciej Babinsky decidiu que não consegue entender muito da arte contemporânea praticada por aí e prefere mesmo é ficar isolado em Várzea Alegre, no interior do Ceará. Brasília, ele visita de vez em quando. É uma cidade de memória afetiva, na qual estreou na carreira docente como professor no Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília (ICA/UnB), em 1965. Na obra de Babinsky, as paisagens brasileiras ganharam espaço, mas não mais que as figuras pintadas ao longo de toda a vida sempre com uma curiosidade experimental. O ser humano de Babinsky não é modorrento nem perfeito. É, isto sim, carregado de expressividade, erotismo e alguma loucura. Em Brasília, a convite do Banco Central, cujo acervo guarda algumas de suas gravuras, o artista inaugurou uma exposição e falou com o Correio.
Durante sua palestra, o senhor falou em independência no mundo da arte. O senhor é independente? Isso é importante?
[SAIBAMAIS]Os artistas independentes são importantes nesse momento. E, nesse momento, é diferente, é muito difícil. Cadê os artistas? Tem o mercado, mas o que o mercado financeiro quer da arte, para mim, não está funcionando. As feiras competem com bienais, com galerias e as galerias estão quebrando. E o novo modo de comercializar arte, que é a internet, está na infância. Estou sem marchand há muitos anos. Virei independente, mas independente como se recebo um contracheque todos os meses que dá conta de minhas despesas e no qual está escrito Tesouro Nacional. Sou independente? Recebo diretamente do governo por ter sido professor da UnB. Na minha opinião, neste momento, é muito melhor do que ser dependente do mercado imaginário que se tenta criar com não obras.
Como assim?
De um lado, querem promover a não obra, a obra que não existe, e querem ganhar dinheiro com nada. Isso não é comigo. Quando os galeristas começaram a pedir 50% em vez de 33,5%, que era, durante anos, a praxe entre galeristas e artistas, falei ;muito obrigado, prefiro ficar com meu contracheque;. Nos anos 1940 e 1950, era o terror do artista virar publicitário. Você virava publicitário e perdia sua independência mais profundamente do que em qualquer outro tipo de emprego. Então, a gente procurava ser recepcionista de hotel, funcionário de companhia aérea, qualquer coisa que não tivesse a mínima ligação com a produção artística atrelada a algum sistema e a publicidade não é nada mais que isso. Alguns se conservaram livres, mas mesmo assim atrelados a alguma forma de poder. É melhor do que tentar usar sua arte para produção de peças de qualquer espécie como sugestão para fomentar a venda de produtos. Essa é minha atitude e não mudou.
O senhor sempre deu aulas, primeiro na UnB, depois em Uberlândia. A opção de docente era uma alternativa?
Ninguém pode imaginar que dar aula é realmente gostoso, que sua arte vai pra frente se você der aula. Mentira. Você sofre com a diferença de atitude. Você tem períodos em que abandona o magistério para poder se dedicar à arte, é um conflito mental que centenas de artistas têm. O Evandro (Carlos Jardim, gravador e professor) diz que é bom o professor ser artista, mas não é tão bom o artista ser professor. Estamos sempre em movimento, não podemos dar opinião em nada, as coisas mudam o tempo todo e o artista tem que se orientar em sua estratégia de vida onde ele possa trabalhar. Eu faço minhas melhores coisas quando estou com preguiça.
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