Não havia muitas opções. As medidas mais duras na ditadura militar ; especialmente com a publicação do Ato Institucional n; 5, no fim da década de 1960 ; deixaram poucas alternativas para quem enfrentava o regime. Muitos escolheram a luta armada e afins. Outros, pelo deboche. A maneira irônica e escrachada usada por vários artistas, jornalistas e intelectuais ganhou logo a alcunha de ;desbunde;, uma das facetas mais coloridas e relevantes da contracultura.
Vários exemplos estão no imaginário popular: as performances abusadas do Dzi Croquettes; a coragem do ensaio sensual de Leila Diniz, grávida e de biquíni na praia; a polêmica tanga de crochê usada por Fernando Gabeira depois do exílio; os espetáculos vanguardistas de Zé Celso Martinez Corrêa; todo o colorido e o barulho da Tropicália; as edições anarquistas de O Pasquim.
Cinquenta anos após o golpe, o desbunde continua dando demonstrações de vitalidade. Em vários pontos do Brasil, uma nova geração desse movimento se mantém firme no propósito de provocar reflexões e debates. Mas quais seriam os alvos agora?
;O país vive um momento em que as pessoas saem do armário para os dois lados: há caretas e desbundados. Essa onda conservadora e canalha me assusta. Vejo a liberdade ameaçada por diversos segmentos: política, religião, economia. O desbunde é uma arma contra isso;, afirma o ator Luiz Lobianco, estrela do canal Porta dos Fundos e integrante de uma trupe de artistas que faz shows apresentados no Buraco da Lacraia, bar situado na Lapa, Rio de Janeiro. Os espetáculos, sucesso de crítica e público, satirizam temas fundamentais para os dias de hoje, como, por exemplo, sustentabilidade, por meio do samba, com o auxílio de roupas coloridas e brilhos de glitter e paetês.
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