Para ele, o funk ostentação possui função semelhante ao do futebol nas comunidades brasileiras: representa uma oportunidade de melhoria rápida no padrão de vida. As discrepâncias entre o que exibe a realidade brasileira, ele acredita, suscitam esperança em quem o admira. ;Minha vida era de muita luta, como é a da maioria das pessoas;, relembra MC Gui em entrevista ao Correio.
Com quase 9 milhões de seguidores em uma rede social, Guilherme Kauê Castanheira Alves, criado na Zona Leste paulista, é um dos grandes representantes do funk ostentação, estilo que prega o consumo e nasceu em São Paulo. Para entendê-lo, a matemática é simples: some marcas de roupas, carros e, é claro, belas mulheres. Curiosamente, assim como MC Gui, intérpretes cada vez mais novos têm engrossado a listas de MCs do funk ostentação. Alguns não têm discos lançados, e contentam-se com a projeção local. Outros, com a ajuda do Youtube, tornam-se conhecidos para além da comunidade onde vivem.
Cuidado
MC Gui canta profissionalmente desde os 10 anos. Entretanto, a diferença com outros colegas de estilo não se restringe ao fato de ser mais novo. Ícone entre os funkeiros mirins, o cantor não insere palavras ofensivas, letras politizadas, drogas ou sexo nas músicas que assina. ;Minhas letras não são pesadas. São uma grande diversão, um sonho que gostaríamos de ostentar e de repente pode dar certo;, revela. ;Cada artista tem o seu estilo e seu público, eu me preocupo com os meus fãs, compostos por jovens e crianças. Tenho muito respeito e cuidado em evitar a imagem distorcida que passa passar por meio de alguma música;, explica.
A música de maior sucesso, O bonde passou, rendeu contrato com uma grande gravadora e um DVD ao vivo, lançado no ano passado. O MC costuma assinar as composições e dá a elas um quê autobiográfico. É o caso de Sonhar, outro hit, que fala sobre superação e que, no videoclipe, presta homenagem ao irmão, Gustavo Castanheira, morto no ano passado. ;O que mais sinto saudade é das brincadeiras, da companhia. Ele faz muita falta nessa minha fase de vida. Queria ele aqui comigo, aproveitando cada segundo disso tudo;, lamenta.
Apesar de ser um ;novinho; entre cantores mais experientes, MC Gui garante que os outros funkeiros o respeitam como profissional. Foi Rogério Alves, o pai, dono de uma casa de shows, quem o incentivou a apostar na carreira. ;Eu via vários ídolos, me apaixonei mais ainda pelo funk. Comecei a cantar com meu irmão por diversão, e deu no que deu;, recorda-se.
Escola de funk
Em São Paulo, existe até escola de funk para jovens cantores. Trata-se do projeto Liga do Funk, uma Organização Não-Governamental capitaneada por Marcelo Galático em São Paulo. Com cerca de cinco mil inscritos, agrupa em média 200 jovens por semana com debates, aulas, reuniões e apresentações de MCs.
Triste episódio
Em abril do ano passado, Gustavo Castanheira, irmão de MC Gui e um dos grandes incentivadores de sua carreira, morreu após sentir fortes dores no peito. Ao sentir-se mal, foi encaminhado a um hospital na Zona Norte de São Paulo, mas chegou sem vida ao local. Em janeiro, em uma entrevista ao Fantástico, a família divulgou um laudo da polícia civil que revelou a causa da morte ; overdose de cocaína. Eles não suspeitavam que Gustavo fosse viciado. ;Eu via ele usando maconha, mas eu pedia para ele parar e ele obedecia;, afirmou MC Gui.
3 perguntas para Mc Gui
Acredita que o funk ostentação terá vida longa?
Tudo tem seu tempo, seu espaço. O funk chegou com força total e é febre. Não fico pensando muito nisso, quero que seja eterno enquanto dure.
Existe alguma fórmula para criar um funk de sucesso?
Isso é muito relativo, não sabemos como o público vai reagir, às vezes esperamos muito de uma música e de repente estoura outra. Não há fórmulas para se criar não, a ideia vem de repente, surge de uma brincadeira, numa roda de amigos, e vem o estalo. A inspiração vem do nada. Algumas vezes, na hora de dormir, a ideia vem, escrevo e guardo.
Você tem consciência da importância social que hoje possui, pelo fato da sua história pessoal de superação se misturar à carreira?
Claro que sim, e sempre que posso participo de campanhas sociais, recentemente participei da campanha contra a AIDS no Instituto Adolfo Lutz de São Paulo e dias atrás participei de uma visita com minha assessoria na AACD de São Paulo.