Na crista da onda, figuras como Dani Calabresa e Antônio Tabet migraram, momentaneamente, para o cinema com a comédia Superpai, estrelada por Danton Mello. Na marca do 1,2 milhão de espectadores, a comédia é o filme nacional de maior projeção, ficando atrás de filmes infantis e dos imbatíveis Cinquenta tons de cinza e Sniper americano.
Engatilhado no mercado da sétima arte, Tabet conta que estará em mais três longas, no ano. Em BO, de Tomás Portella, fugirá da comédia, incorrendo em andamento de policial ("Faço um miliciano bandido, no filme", adianta). Além de acertada a participação em Divã 2, ele estará em Tamo junto (do brasiliense Matheus Souza). "Tenho outros três convites pendentes, fora o longa do Porta dos Fundos que será feito entre março e abril, e que estreará no fim de ano", conta.
Também de Brasília, Tabet aponta Welder Rodrigues (de Os Melhores do Mundo) como alguém "genial", ao falar de suas referências. Welder, por sinal, será colega de Dani Calabresa, em Zorra, o reformulado programa da Globo, que se arrastava desde 1999. "Pra mim, não vai ter muita responsabilidade porque o roteiro não é meu", brinca Calabresa, sobre o desafio na troca de emissoras.
Seguramente, o humor político será um dos assuntos a serem explorados no novo Zorra. "Enquanto a única maneira que o jornalismo tem de enfrentar a política é pelo método investigativo, o humor alcança o resultado, mas batendo com luva de pelica, matando com gentileza. Acho fundamental fazer humor político, ainda mais no momento atual que a gente vive", pontua Tabet.
Quatro perguntas // Antônio Tabet
Quais suas referências mais imediatas?
Pra mim, referências são Monty Python New Kids in the Hall, aqueles canadenses. Em termos de textos nacionais, gosto
muito do Millôr Fernandes e do Luis Fernando Verissimo. Já entre atores, sem contar monstros como o Jô Soares
e o Chico Anysio, admiro muito o Pedro Cardoso que eu acho hilário e com o qual eu choro de rir.
Com se dá a interação com humor, em termos de público, na internet?
O legado do humor feito para a internet é o de não haver paradigmas editoriais impostos por pessoas cujas formações você não respeita. Você não precisa reverenciar um executivo que nunca foi comediante ou humorista e que determine o que é engraçado ou não. O convite para o filme Superpai é resultado dessa mudança. Nele há um palavreado que não é tão comum de se ver no cinema. Algumas piadas abordam racismo, sexismo, alcoolismo, drogas ; são licenças e resultados de uma página virada pela internet.
E como lidar com críticas?
Sou macaco velho de internet: tô, desde 2002, fazendo internet, então estou escolado e já aprendi a lidar com a internet, que depende do meio de origem dela. Nela, todos acham que podem ser críticos. A liberdade vem para o criar e o criticar, sempre com ou sem embasamento. É bom e ruim: qualquer um se diz especialista e pode te criticar. Você tem que ser criterioso: saber de onde vem a crítica e saber medir. Não adianta você ver uma enxurrada de gente falando bem ou mal de você e se deixar levar por isso. Por outro lado, quando a pessoa produz conteúdo, a meritocracia acaba valendo. Conteúdo que é bom se destacada do que não é. Não me deixo levar por isso. O perfil das pessoas muda, de acordo com a rede em que está. O twitter é malditão: 90% das pessoas que estão lá ficam para falar mal de alguma pessoa. Essas mesmas pessoas estão no Facebook e, lá, elas falam bem. No instagram é diferente -- parece que o meio dita o comportamento. Não me deixo abalar, já que, pra mim, internet é um número. Quero atingir o maior número de pessoas possível.
Existe temas que não são engraçados a ponto de renderem piada?
O Chico Anysio dizia que o humor bom era o humor engraçado. O politicamente correto, pra mim, não é ruim. Pra mim, não é chato. Acho muito bom que hoje uma criança negra sofra muito menos preconceito na escola de quando eu era criança. Acho muito bom que eu pense duas vezes antes de fazer uma piada com um deficiente físico -- que era uma coisa muito feita nos anos 80 -- mas que, hoje, se reavalia fazer piada só porque uma pessoa nasceu diferente. Acho ruim o politicamente correto na cabeça da pessoa que aponta o preconceito. Digo isso naqueles casos em que se aponta algo que o autor da piada nem viu. Nisso, o preconceito está na cabeça de quem aponta. Se você faz uma piada com o tema raça, não significa que o autor da piada seja racista. Muitas vezes se aponta preconceito onde não há. As pessoas enxergam machismo onde não tem; feminismo, onde não tem; sexismo onde não tem. Tá uma patrulha ; essa patrulha é que está excessiva.
Três perguntas // Dani Calabresa
Quem deu aval para a sua graça?
Quando riram de mim, no palco, e eu fazia comédia, já torcia para pegar o papel mais engraçados. Recebia a confirmação da graça, num teste, e tudo ficava claro, com a reação da plateia. Da risada imediata vinha a confirmação.
Humor feminino funciona mais com mulheres?
Quando eu estreei, no stand-up, escrevendo meu texto, eu achava que as mulheres iriam se identificar mais: querendo ou não, tava falando de depilação, de TPM, de chocolate e de coisas do meu cotidiano. Mas, os homens associam e dão risadas, dizem "minha irmã é assim", "minha namorada é assim" e as bichas: "adoooooro, também sou assim". Quando a piada é boa, o humor é universal.
Quais as suas referências no humor?
Não que eu pense em me igualar ou copiar, mas assisti muito a Lucille Ball, e, se você parar para pensar, era um mulher comediante nos anos 50: ela era hilária, careteira e tão ingênua -- não tem nada pesado e é tão boboca. Ela é muito engraçada! Peter Sellers, Marisa Orth, Cláudia Jimenez. Eu amava o Sai de Baixo. Gosto de pessoas naturalmente engraçadas como o Miguel Falabella. Gosto do TV Pirata, mas o Sai de Baixo era o mais engraçado porque vinha com a fórmula do teatro para a tevê: a gente esperava pelo imediatismo e pelas respostas de improviso dos atores.