Nahima Maciel
postado em 31/12/2014 08:54
Durante os últimos dois anos, Maitê Proença viveu Terezinha, uma senhora de 86 anos de temperamento otimista, mas cheia de segredos. A personagem é fruto de pesquisa de Fernando Duarte, cujas histórias recolhidas em asilos deram origem à peça À beira do abismo me cresceram asas, dirigida por Clarice Niskier e pela própria Maitê. Lá pelas tantas, Terezinha encara a plateia e solta a famosa frase de Edith Piaf: ;A velhice não é para covardes;. E, na visão de Maitê, o amor também não. Foi um pouco para se distanciar de Terezinha e um pouco para falar de um fenômeno moderno que ela mergulhou na escrita de Todo vícios, o segundo romance depois de Uma vida inventada e quinto livro da atriz e escritora. ;Minha personagem era uma velha de 86 anos, rural e simplória. Eu precisei voltar para um contexto mais urbano, moderno, digital;, avisa Maitê, em entrevista ao Correio.
[SAIBAMAIS]Todo vícios é a história de Stella e João. Ela, uma atriz que mudou de área e virou artista plástica. Ele, um publicitário cuja mulher morreu antes que o marido descobrisse a traição perpetuada durante anos. O romance da dupla começa no mundo real, mas acontece muito mais no espaço virtual do WhatsApp do que nas ruas do Rio de Janeiro e de São Paulo, cidades pelas quais o casal trafega. Palavras escritas às pressas e nem sempre precisas, expressões faciais ocultas por trás da tecnologia e uma distância física que nunca é transposta marcam a relação do casal. Stella aceita o pouco que João quer lhe dar. E João está bem confortável com a situação.
O romance nasceu de uma angústia que Maitê cultiva ao observar como as relações podem ser vividas de forma não presencial graças às tecnologias. ;A palavra é insuficiente para comunicar;, garante. Se Uma vida inventada travava um jogo entre a ficção e a realidade ; o livro de 2008 ficava entre a autobiografia e o romance ;, Todo vícios é pura ficção, embora Maitê admita que Stella carregue um pouco das histórias vividas pela atriz. ;Stella se parece comigo em algum momento de alguma história de amor;, avisa. Aos 56 anos, com três décadas de carreira, 18 novelas, seis minisséries e quatro programas de tevê como apresentadora, além das peças e dos romances, a atriz paulistana está prestes a iniciar uma novela e sente-se confortável para dar sequência ao trabalho de apresentadora de programa de futebol. ;(vou) seguindo como se fosse o princípio. Um pouco mais exigente;, diz. Abaixo, Maitê fala sobre relacionamentos modernos, futebol e literatura.
Qual é, na sua opinião, o futuro das relações mediadas pela tecnologia e por ferramentas não presenciais?
O entendimento já era difícil quando as pessoas se encaravam, viam a postura do corpo, o tom da voz, o estado emocional, as hesitações e inseguranças. Se, com todos esses elementos, a gente se estranhava, imagine agora, com três palavras escritas às pressas e enviadas por WhatsApp entre um afazer e outro.
Todo vícios é fruto de uma angústia diante dessa questão?
Sim! A palavra é insuficiente para comunicar. Quanto mais vocabulário se tem, quanto mais articulada e hábil a pessoa, mais poderá usar a palavra para dissuadir o outro. Alguém protegido, com receio de manifestar o que lhe vai por dentro, vai usar essa habilidade para dissimular. O outro perceberá talvez alguma discrepância, mas, se não observar, não perceberá o parceiro. A palavra é pouca. Nem a poesia consegue sempre, quanto mais um texto digitado às pressas só com o empenho da razão.
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