Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Maitê Proença lança livro e analisa relações amorosas em tempos de internet

O romance nasceu de uma angústia que a atriz cultiva ao observar como as relações podem ser vividas de forma não presencial graças às tecnologias


Durante os últimos dois anos, Maitê Proença viveu Terezinha, uma senhora de 86 anos de temperamento otimista, mas cheia de segredos. A personagem é fruto de pesquisa de Fernando Duarte, cujas histórias recolhidas em asilos deram origem à peça À beira do abismo me cresceram asas, dirigida por Clarice Niskier e pela própria Maitê. Lá pelas tantas, Terezinha encara a plateia e solta a famosa frase de Edith Piaf: ;A velhice não é para covardes;. E, na visão de Maitê, o amor também não. Foi um pouco para se distanciar de Terezinha e um pouco para falar de um fenômeno moderno que ela mergulhou na escrita de Todo vícios, o segundo romance depois de Uma vida inventada e quinto livro da atriz e escritora. ;Minha personagem era uma velha de 86 anos, rural e simplória. Eu precisei voltar para um contexto mais urbano, moderno, digital;, avisa Maitê, em entrevista ao Correio.

[SAIBAMAIS]Todo vícios é a história de Stella e João. Ela, uma atriz que mudou de área e virou artista plástica. Ele, um publicitário cuja mulher morreu antes que o marido descobrisse a traição perpetuada durante anos. O romance da dupla começa no mundo real, mas acontece muito mais no espaço virtual do WhatsApp do que nas ruas do Rio de Janeiro e de São Paulo, cidades pelas quais o casal trafega. Palavras escritas às pressas e nem sempre precisas, expressões faciais ocultas por trás da tecnologia e uma distância física que nunca é transposta marcam a relação do casal. Stella aceita o pouco que João quer lhe dar. E João está bem confortável com a situação.

O romance nasceu de uma angústia que Maitê cultiva ao observar como as relações podem ser vividas de forma não presencial graças às tecnologias. ;A palavra é insuficiente para comunicar;, garante. Se Uma vida inventada travava um jogo entre a ficção e a realidade ; o livro de 2008 ficava entre a autobiografia e o romance ;, Todo vícios é pura ficção, embora Maitê admita que Stella carregue um pouco das histórias vividas pela atriz. ;Stella se parece comigo em algum momento de alguma história de amor;, avisa. Aos 56 anos, com três décadas de carreira, 18 novelas, seis minisséries e quatro programas de tevê como apresentadora, além das peças e dos romances, a atriz paulistana está prestes a iniciar uma novela e sente-se confortável para dar sequência ao trabalho de apresentadora de programa de futebol. ;(vou) seguindo como se fosse o princípio. Um pouco mais exigente;, diz. Abaixo, Maitê fala sobre relacionamentos modernos, futebol e literatura.

Qual é, na sua opinião, o futuro das relações mediadas pela tecnologia e por ferramentas não presenciais?

O entendimento já era difícil quando as pessoas se encaravam, viam a postura do corpo, o tom da voz, o estado emocional, as hesitações e inseguranças. Se, com todos esses elementos, a gente se estranhava, imagine agora, com três palavras escritas às pressas e enviadas por WhatsApp entre um afazer e outro.

Todo vícios é fruto de uma angústia diante dessa questão?

Sim! A palavra é insuficiente para comunicar. Quanto mais vocabulário se tem, quanto mais articulada e hábil a pessoa, mais poderá usar a palavra para dissuadir o outro. Alguém protegido, com receio de manifestar o que lhe vai por dentro, vai usar essa habilidade para dissimular. O outro perceberá talvez alguma discrepância, mas, se não observar, não perceberá o parceiro. A palavra é pouca. Nem a poesia consegue sempre, quanto mais um texto digitado às pressas só com o empenho da razão.

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