;Leitor, este animal em extinção na fauna brasileira. A internet está aí servindo como zoológico. Se virem! Façam a revolução.; Foi por pensar assim que o escritor amazonense Diego Moraes resolveu criar a Flipobre, feira literária virtual, em vez de apenas se juntar ao grupo dos que reclamam por não receberem convites para grandes feiras e eventos literários.
A iniciativa, nomeada com a sacada irônica de Moraes, acontece neste domingo (7/12) e é transmitida ao vivo pela internet no criado para o festival. O homenageado escolhido para a primeira edição é o escritor Lima Barreto.
[SAIBAMAIS];Minha intenção é dar voz aos caras que estão longe do eixo Rio/SP ou não desfilam em eventos glamourosos. O escritor luta para inventar leitores. A Flipobre é só mais um canal para atrai-los;, explica o escritor de Manaus, autor de A solidão é um deus bêbado dando ré num trator (Bartlebee Editora).
Na programação, sete mesas discutirão, via web, o machismo na literatura, o papel da internet na divulgação literária e a quantidade de leitores em relação ao número de escritores no país, entre outros temas. Ricardo Lísias, Carlos Henrique Schoereder, Tadeu Sarmento, Roberto Menezes e mais uma lista grande de autores compõem o time que debaterá os assuntos no domingo.
O paraibano Roberto Menezes é autor de Palavras que devoram lágrimas (Latitudes/e-Galáxia) e, além de participar das discussões, foi convidado por Moraes para colaborar na organização. ;A ideia é de Diego Moraes. Eu achei genial. Ele me chamou e a gente formou a parceria na organização.; Para o escritor, a dimensão que a iniciativa ganhou vai além do que imaginaram.
A ideia é que a Flipobre possa ajudar a levar a obra de novos autores mais longe. ;Do ponto de vista de divulgação literária, acho que muitos escritores no Brasil não se conhecem. Se não se conhecem, não divulgam um ao outro. E falo isso pensando em literatura, não em camaradagem, que também rola, mas não é o ponto fundamental do processo. O evento vem pra ajudar;, explica Menezes.
Na web
;Boa literatura fura qualquer bloqueio. O lance é que o elitismo literário investe pesado em marketing e propaganda. E muita gente fica de fora por não ser apadrinhada ou seguir a cartilha de panelinhas;, acredita Moraes. Para quem pretende driblar as regras do mercado editorial e conquistar destaque fora do eixo Rio/São Paulo e das grandes editoras, a internet é uma ferramenta de muito valor.
;O problema de muito escritor é não saber como usar esse novo universo aberto na sua frente;, considera Menezes. Para o autor, muitas vezes a qualidade literária fica um tanto esquecida em detrimento da divulgação a todo custo. ;Alguns pensam que grandes escritores que estão por aí pela internet surgiram semana passada.;
Grande parte dos autores que participarão da Flipobre se conheceram pela web, que possibilitou a escritores do Norte e Nordeste manter contato direto com outros do Sul, por exemplo. Para Menezes, é isso que vem dando um novo ar à literatura produzida no país. ;Esse intercâmbio é que está mudando a cara da literatura brasileira. Do começo dos anos 2000 para cá, a literatura não é só livro publicado, é blog, revista, post de Facebook. Como toda mudança, isso demora a ser visto. É complicado enxergar algo no meio de um furação, quando esse furacão se estabilizar, é que a gente vai poder ver em uma resolução melhor.;