O universo de Farnese de Andrade nunca foi pontuado por temas leves, assim como a maneira de significar o mundo ao seu redor é despovoada de imagens leves, cartografias precisas ou reflexões conceituais e acadêmicas. É retomando esse universo que reflete sobre a loucura e no qual a figura humana está sempre presente que o curador Marcus Lontra reuniu as 50 peças de Farnese de Andrade ; Arqueologia existencial, em cartaz a partir de quarta (26/11) na Caixa Cultural.
As peças vieram de quatro coleções privadas e da própria família do artista, morto em 1996, aos 70 anos. Boa parte da obra do artista repousa hoje em acervos particulares, e o maior deles está em Goiânia. Nascido em Araguary (MG) em 1926, o artista estudou pintura com Alberto da Veiga Guiganrd, na capital mineira, mas foi no Rio de Janeiro que se fixou no fim dos anos 1940. Farnese sofria de tuberculose e acreditava que o clima da capital carioca ajudaria no tratamento da doença. Por lá, tornou-se ilustrador de jornais como o Diário de Notícias e o Correio da Manhã.
Farnese carregava muito das referências barrocas de sua Minas Gerais natal, e as peças construídas com madeira e uma assemblage de inúmeros objetos são um acúmulo que dialoga facilmente com o exagero dos rococós. Mas o artista era uma espécie de forasteiro em um Rio de Janeiro mergulhado na arte concreta e na geometria abstrata. ;Ele ainda é um artista maldito porque parte da crítica acadêmica brasileira insiste numa referência de arte construtiva, o que acho pessoalmente uma bobagem;, explica Marcus Lontra. ;Farnese é um artista espetacular. E ele gerou um grupo de artistas espetaculares como Tunga, Angelo Venosa e outros.;
[SAIBAMAIS]Temas como loucura, religião e arte são presença constante nos objetos do mineiro. As séries de oratórios povoados por figuras e imagens que questionam o dogma lembram o enraizamento do artista em uma cultura profundamente marcada pela prática religiosa. O interesse pela loucura também era uma constante no trabalho de Farnese, que recolhia restos de objetos corroídos pelo tempo e pelo descaso em aterros e praias para usar nas assemblages.
SERVIÇO
Farnese de Andrade ; Arqueologia Existencial
Exposição de Farnese de Andrade. Curadoria: Marcus Lontra. Visitação de 26 de novembro até 11 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, nas galerias Picolla I e II na Caixa Cultural (SBS Quadra 4, Lotes 3/4 ; Edifício Anexo à Matriz da CAIXA)
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