Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Müller: Obra de Manoel de Barros fura bloqueio da leitura acadêmica

Em entrevista ao Correio, o professor fala do contato pessoal com o poeta

Professor de teoria da literatura na UFF-RJ, Adalberto Müller descreve no livro Manoel de Barros ; Encontros que a entrevista para o poeta era a arte do disfarce. E explica: ;O seu valor (das entrevistas) não era apenas informacional ou biográfico, era também artístico. (;) É certo que Manoel usa as entrevistas com o pretexto de fazer poesia;. E, de fato, a poesia estava presente em todos os momentos da vida de Manoel. Em entrevista ao Correio, Adalberto fala do contato pessoal com o poeta, da relação com Guimarães Rosa e descreve a alquimia que fazia parte do estilo de Manoel: conectar a natureza às palavras.


Como foi que se estabeleceu o seu contato pessoal com Manoel de Barros e como ele elaborou o livro Manoel de Barros ; Encontros? Por que ele resolveu reescrever todas as entrevistas que concedeu? Ele concebia a entrevista também como poema?
Manoel de Barros já havia publicado parte das suas entrevistas na primeira reunião de sua obra, em 1990, chamada Gramática expositiva do chão (poesia quase toda); como sempre gostei dessas entrevistas, e de outras que ele ia concedendo, resolvi propor que ele publicasse mais um livro só com as entrevistas. Ele topou, e passei anos juntando jornais e comparando com manuscritos originais. Uma coisa que percebi de cara é que ele não concedia entrevistas por telefone, ou gravadas: era sempre por escrito.



Como avalia a originalidade da poesia de Manoel de Barros no plano da poesia brasileira e internacional? Ele é importante também em uma perspectiva internacional? Como a obra dele é recebida fora do país?
No Brasil, a poesia de Manoel de Barros é interessante porque fura o bloqueio da leitura acadêmica. Em geral, a poesia só é lida por poetas e por professores de literatura. Esse não é o caso de Manoel de Barros nem de Adélia Prado. Eles, a rigor, até dispensam a crítica acadêmica, pois seus leitores são bastante heterodoxos. Mas, especialmente no caso de Manoel de Barros, eles exigem dos acadêmicos novas formas de ler ; até por isso encontram resistências. No exterior, Manoel vem sendo traduzido. Kurt Mayer-Clason o traduziu para o alemão (ele era o tradutor de Guimarães Rosa). Há uma bonita tradução americana, feita por Idra Novey, excelente poeta nova-iorquina. Também há traduções para o catalão, o espanhol e o francês. Sei de uma em italiano em preparação, e de outra em francês. Mas Manoel de Barros também foi adaptar para outras artes. Egberto Gismonti gravou um disco (Música de sobrevivência) a partir de poemas de Manoel de Barros. Os irmãos Guimarães, de Brasília, criaram uma peça muito boa, NADA, a partir de Manoel de Barros. Joel Pizzini e eu mesmo (no curta Wenceslau e a árvore do gramofone) o levamos ao cinema. E por aí vai.



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