postado em 09/11/2014 08:03
Pelas mãos da escritora peruana de coração chileno Isabel Allende, anotações feitas em um quarto de hospital de Madri se transformaram nos depoimentos valiosos do livro autobiográfico Paula, que completa este ano 20 anos. Uma das narrativas mais pessoais e tocantes da escritora descreve a esperança e, de forma paralela, reconforta uma mãe ; a própria Isabel ; que enxerga nas lembranças uma maneira de superar a dor de presenciar a filha em coma após ser diagnosticada com uma doença degenerativa.Sobrinha de Salvador Allende, ex-presidente chileno que sofreu as consequências do golpe militar, Isabel transmite com delicadeza as cicatrizes provocadas pela ditadura em grande parte de suas obras, inclusive no livro em homenagem à filha. A escritora de outros sucessos como A casa dos espíritos e A cidade das feras fala em entrevista ao Correio sobre a a dor do luto, feminismo e política, além do desafio de escrever seu primeiro romance policial, O jogo de Ripper (Bertand Brasil, 490 págs, R$ 50).
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O luto
"O tempo ajuda a transformar a dor. Não me sinto paralisada pela tristeza, como no início. Levo a memória de Paula sempre comigo, seu espírito me acompanha. Essa tragédia me fez mais forte e me obrigou a me desprender do supérfluo. Aprendi que a única coisa importante é o amor. É aquilo que fica quando o restante se perde. Escrever me permitiu ordenar as lembranças desse ano terrível em que minha filha ficou agonizando.
Naquele ano, no hospital de Madri, e depois em minha casa, na Califórnia, foi só sofrimento, angústia e falsas esperanças. Os dias transcorriam todos iguais. Escrevi o livro me baseando nas anotações que fiz no hospital quando achava que minha filha se recuperaria e nas 180 cartas endereçadas à minha mãe depois que soube que Paula tinha um dano cerebral severo. Ao escrever os acontecimentos do dia a dia, compreendi melhor o que tinha acontecido e aceitei. Creio que o livro foi escrito com lágrimas."
[SAIBAMAIS]Obras marcantes
"De todos os meus livros, o que teve a melhor resposta do público foi Paula. Os leitores ; especialmente as mulheres ; se sentem tocados por essa história e me escrevem. Tenho milhares de cartas e mensagens, que continuam chegando 20 anos depois da publicação do livro."
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