Ao longo da curta trajetória, o poeta e jornalista piauiense Torquato Neto deixou em seus escritos várias pistas de que o fim poderia ser trágico ; como no trecho ao lado, de Todo dia é Dia D, parceria com Carlos Pinto. Tropicalista de primeira hora e letrista de músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo e Jards Macalé, Torquato saiu de cena aos 28 anos, em 1972, por conta de um suicídio. No domingo (9/11), ele completaria sete décadas de vida, e sua conturbada passagem por aqui continua a motivar inquietações por todos os lados.
;Todas as canções do Torquato têm um quê de despedida;, acredita o jornalista Paulo José Cunha, primo do poeta, que está preparando um documentário sobre a vida dele. ;A semente dessa decisão (suicídio) estava plantada lá atrás, mas ninguém percebia. Nem eu, que convivia diretamente com ele. O que ele tinha era uma depressão;, afirma Cunha.
[SAIBAMAIS]Toninho Vaz, autor de A biografia de Torquato Neto (Editora Nossa Cultura), reeditada recentemente, revelou no livro que o artista foi diagnosticado como esquizofrênico.
Paulo José Cunha, carioca criado em Teresina e radicado em Brasília, está recolhendo material há 12 anos para o documentário sobre o parente ilustre. Mas ainda não há previsão de lançamento da película, que deve ser um longa-metragem. ;Quero apresentar o homem, e desmitificar esta figura um pouco vampiresca que as pessoas têm dele. Quem conviveu com Torquato sabe que ele era uma pessoa muito doce, agradável e suave;, observa Cunha.
Para entender o compositor
Confira trechos de algumas letras escritas por Torquato Neto
Pra dizer adeus
A aproximação com a MPB tradicional, como nesta célebre parceria com Edu Lobo, mostra a facilidade do artista em transitar por correntes distintas. A dor aparece como tema constante
;Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho
Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho;
Geleia geral
Canção-manifesto do movimento tropicalista, ao lado de Tropicália, de Caetano, esta música feita com Gilberto Gil é uma síntese da efervescência cultural brasileira dos anos 1960
;Um poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia;
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