Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Lançamentos ajudam a compreender fatores sociais e econômicos da escravidão

Três livros jogam luzes sobre as condições em que viviam os homens cativos durante e depois do cativeiro



[SAIBAMAIS]Os três livros têm enfoques bem diferentes e tratam da escravidão em geografias e momentos distintos da história. Aranha faz o compêndio mais abrangente e aprofundado ao mergulhar nos fatores econômicos e sociais que fizeram da escravidão uma atividade extremamente rentável entre os séculos 16 e 19. Resultado da tese defendida na Universidade de Harvard em 1978, o livro traça um panorama da economia brasileira ao longo dos séculos e o papel da escravidão nesse cenário. Aranha divide a análise em regiões e acompanha como se deu a transição da escravidão para o trabalho livre.

O Brasil foi o último país a abolir a escravidão. Entre o início da prática, durante a colonização, e a abolição, o país contou com cerca de 4,9 milhões de escravos. Estima-se em mais de 37 mil o número de viagens realizadas entre a costa africana e as Américas por navios negreiros. O primeiro censo, de 1872, apontou que, em uma população de 10,1 milhões, pelo menos 1,5 milhão eram de homens cativos cujo valor era o mesmo de uma mercadoria. ;O Brasil foi de longe a região que mais importou escravos;, avalia Aranha. Além dos números ; maiores em relação a qualquer outro país escravocrata da época ; a escravidão no Brasil tinha contornos particulares.



O quanto as relações de trabalho na sociedade brasileira foram influenciadas pelas relações do sistema escravocrata?
Houve dois tipos de aportes. Até a proclamação da República, havia uma contribuição brutal dos africanos e de seus descendentes para a força de trabalho. Depois, houve uma entrada considerável de estrangeiros e esses estrangeiros vinham de uma experiência de atividade sindical, muitos eram anarquistas. Houve uma mudança na forma dos empregadores encararem os empregados porque eles partiram de uma sociedade em que muitas pessoas achavam que trabalhador não tinha nenhum direito para uma evolução gradual ao longo do século 20 . Aos poucos foi mudando a atitude em relação ao trabalho. Demorou a ter direito de greve, condições mais salubres, mas até 1920 o Brasil era basicamente um país agrário e no campo prevaleciam relações patriarcais, mas não necessariamente herdadas da escravidão e sim de todo um contexto social que vinha de Portugal e no qual você tinha deferência entre empregado e empregador.

Como o senhor encara o racismo no Brasil hoje?
A situação do Brasil melhorou consideravelmente na medida em que os vários segmentos da população foram tendo acesso à educação. Antigamente, você assemelhava o negro a uma pessoa não educada, que não tinha condições de certas ocupações porque não tinha as qualificações devidas. Houve um esforço considerável de inclusão dos vários grupos sociais no Brasil.

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