Diversão e Arte

10 filmes para compreender a ditadura militar no Brasil

Separamos as principais obras cinematográficas brasileiras sobre os anos de chumbo

Ricardo Daehn
postado em 04/11/2014 14:51

A memoria que me contam


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Francamente inspirada na ativista Vera Sílvia Magalhães, Simone Spoladore interpreta Ana, que faz uma simbólica ronda de despedida dos amigos, todos envolvidos em militância. Para um Brasil, que, após cátedra de moral e cívica, adota aulas de cidadania, a ótica turva da diretora Lúcia Murat traça coerência, com finado comunismo e desilusão partidária. Além disso, soa ao prenúncio de uma virada de página.

Cabra cega


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Retratando uma imobilidade forçada e o cerceamento da expressão, nos anos 1970, o enfoque adotado pelo diretor Toni Venturi é o grande trunfo, já que aposta no intimismo contra a obviedade de um possível enfrentamento direto entre heróis revolucionários e a tida banda podre da ditadura. Numa cena libertária, com o uso de Eu quero é botar meu bloco na rua (de Sérgio Sampaio), o militante Tiago (Leonardo Medeiros) despeja uma carga emotiva poucas vezes vistas no cinema nacional.

O que é isso, companheiro?


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Uma trupe de atores habitualmente cômicos (Fernanda Torres, Luis Fernando Guimarães e Pedro Cardoso), ao lado do ator norte-americano Alan Arkin, estrela o filme, saído das páginas de obra assinada por Fernando Gabeira. Na fita, estão contadas as ações dos grupos de guerrilheiros como o MR-8 e a Ação Libertadora Nacional. Em busca da libertação de companheiros de causa, eles planejam o sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick, em 1969. Bruno Barreto dirigiu o filme concorrente ao Oscar e também ao Urso de Ouro. Com elenco irregular, não enche, de todo, os olhos.

Batismo de sangue


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Frades dominicanos envolvidos na luta contra a ditadura povoam o sanguinolento filme assinado por Helvécio Ratton. Partindo de obra de Frei Betto (interpretado por Daniel de Oliveira), Frei Tito é o personagem central que ; cercado de torturas físicas (um equívoco é o grafismo adotado por Ratton) ; se imanta de degradação mental, diante da crescente sensibilidade. Lamentavelmente, Caio Blat não faturou o Candango de melhor ator, em atroz injustiça.

Cabra marcado para morrer


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Prova de permanência do documento fílmico: a luta de João Pedro Teixeira, morto diante das convicções pessoais, na luta pela reforma agrária, atravessou mais de duas décadas até ser concluída. Com produção de Vladimir Carvalho, o clássico absoluto de Eduardo Coutinho é constituído por metalinguagem: impedida de ação, durante a ditadura militar, a equipe retoma temas da liga camponesa, da luta contra o latifúndio e da superação empreendida pela ativista viúva de João Pedro, dona Elizabeth Teixeira.

Hoje


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No quarto longa dirigido por Tata Amaral, uma personagem (Denise Fraga), presa ao passado de ex-militante, goza dos benefícios alcançados a custa do lucro pela ação reparadora do Estado, em realidade pós-ditadura. Se incorre na sujeição do teatro filmado e na facilidade de um final supostamente palatável, a diretora, ao menos, oferta a lucidez de um discurso contestador, que, atento a versões de uma história nacional, não categoriza heróis, delatores e vítimas.

O ano em que meus pais saíram de férias


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Logo no começo do segundo longa-metragem de Cao Hamburger, o protagonista Mauro (Michel Joelsas), aos 12 anos, ouve do pai Daniel (Eduardo Moreira) uma definição para a função do goleiro ; aquele que fica sozinho esperando o pior. O menino, naquela fase de puro entretimento com o futebol de botão, não capta a extensão das palavras paternas que vão refletir como uma cartilha de sobrevivência no porvir solitário dos anos de 1970.

Deus e o diabo na terra do sol


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Haverá quem prefira ilustrar a ditadura com outro clássico de Glauber Rocha: Terra em transe (1967). Mas, essa produção anterior, já formatava temas implicados no domínio da ditadura: o apego desmedido do povo à religião, surgimento de lideranças afirmadas na ignorância, impossibilidades financeiras ; tudo lá, para o brilho da tríade Geraldo del Rey, Yoná Magalhães e Othon Bastos.

Setenta


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Transtornos assinalados por perseguições aos guerrilheiros, uma noção da distensão dos anos de chumbo e reflexos de memórias decantadas, com vestígios heróicos para os "companheiros" (outrora chamados terroristas) dão o tom.


Cidadão Boilesen


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Vencedor do festival É Tudo Verdade, o filme do carioca Chaim Litewski, traz um didático panorama da atuação do dinamarquês Henning Boilesen no reforço ao aparato militar dos anos de 1970. A edição, a princípio frenética e exuberante de Pedro Asbeg, assenta de maneira concisa e com aspecto atrativo a faceta obscura do empresário envolvido com a fundação da Operação Bandeirantes (Oban).

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