Paris - Arqueólogo da memória, que só escreve sobre o passado, especialmente sobre os anos 40, Patrick Modiano, premiado nesta quinta-feira (9/10) com o Nobel de Literatura, é o autor de uma obra singular, sempre à procura de identidade, variando entre o romance e o mistério.
Aos 17 anos, decidiu nunca mais ver o pai odiado, que se tornou alvo de vários de seus livros. Cumpriu sua promessa. Parou de estudar ao final do ensino médio e, apoiado por Raymond Queneau, um amigo de sua mãe, começou a escrever: "Eu não tinha nem 20 anos, mas minha memória precedia meu nascimento."
Livro após livro - escritos à mão, para lutar contra o lado "abstrato" do exercício - construiu o seu museu imaginário, fora de moda, até ser considerado um clássico na França. Seus livros vendem bem, inclusive no exterior, mesmo sem aparecer na televisão.
Alto, pálido, olhos suaves, o rosto um pouco doloroso, é conhecido por sua dificuldade em se expressar publicamente, por sua discrição e sua indiferença para com as honrarias, ele que se recusou a entrar para a Academia Francesa.
Casado desde 1970 com Dominique Zehrfuss e pai de duas meninas não optou pelo isolamento. Em 1974, escreveu, com o cineasta Louis Malle, o roteiro do filme "Lacombe Lucien", que conta a história de uma adolescente na França em 1944.
Ele é o autor de um ensaio com Catherine Deneuve sobre sua irmã falecida muita jovem, François Dorléac. Jurado em 2000 do Festival de Cannes, ele também escreveu letras de músicas como "Etonnez-moi Beno;t", interpretada por Françoise Hardy.
O autor teve alguns de seus livros publicados no Brasil, entre eles "Dora Bruder", "Uma rua de Roma", "Ronda da noite", "Vila triste", "Meninos valentes", "Filomena firmeza" e "Do mais longe ao esquecimento".