postado em 09/10/2014 08:05
A imagem prevista para acompanhar esta reportagem seria no interior do Teatro Nacional, e não do lado externo como se observa. Procurada com alguns dias de antecedência, a Secretaria de Cultura do Distrito Federal autorizou o registro dos atores no palco da Sala Villa-Lobos, referência máxima do teatro brasiliense. Vinte minutos antes do horário agendado, no entanto, a autorização foi revogada. Segundo eles, ;por determinação do Ministério Público;.
[SAIBAMAIS]Algumas dúvidas, sem respostas, pairaram na cabeça dos artistas convidados: seria medo de registrarmos que a anunciada reforma do local mal começou? Seria receio de esbarrarmos com algumas irregularidades? De atestarmos a degradação da mais importante sala de espetáculos de Brasília? Impossível responder. Mas uma questão restou pacífica: ;Nosso mais importante teatro permanece de portas fechadas para os artistas locais;, afirmou o ator Humberto Pedrancini, de 64 anos. Foi a deixa para que a discussão tomasse conta dos demais.
A nova e a velha geração praticamente não apresentam grandes diferenças nas expectativas e ilusões da vida nos palcos. Na verdade, as dificuldades se repetem. Assim como a vontade de se fazer arte e o senso de resistência. A intensidade desses sentimentos, no entanto, muda de um grupo para o outro.
Nem 25 anos;
Embora ainda jovens, os representantes da nova geração sabem bem o que os motiva e o que os esmorece. No geral, eles parecem animados com o cenário atual e não temem o que esteja por vir. ;Acredito que os artistas estão caminhando para um amadurecimento empreendedor do seu negócio, que é a arte;, aposta a recém-formada Julie Wetzel, de 25 anos. Nem por isso, ela deixa de reconhecer alguns passos por dar: ;Temos um caminho longo para estreitar os laços com a plateia. Não vejo nada muito fácil, mas uma possibilidade de reciclar, reinventar e repensar;.
Depoimento// Humberto Pedrancini, ator e diretor
Atualmente, a faculdade de artes cênicas informa, mas não forma. As disciplinas não se interligam. Há bons professores, mas o diálogo entre as matérias é limitado. E para onde esse povo vai, depois de formado? Como está o mercado de trabalho? São perguntas que faço. (;) Vivemos uma eterna ausência de política cultural. Brigo pelas mesmas coisas que brigava há 40 anos. Pelos locais, pelos grupos, por teatro nas cidades do DF, pelo acesso desse pessoal aos espetáculos do Plano. Não mudou nada. Eles farão de tudo para você desistir e alguns resistirão. Outros pegarão cargos públicos. Nossa função não é esperar nada do governo, mas forçá-lo. E essa luta não termina pelos próximos 100 anos. A filosofia não resolveu a questão, a religião não resolveu. A única que resta é a arte. Mais e mais pessoas querem fazer arte. Alguns pelo glamour ; que também faz parte. Mas outros pela necessidade intrínseca de renovar, de reciclar. Pela necessidade de sair desse cotidiano rotineiro, tão chato. Esse mal estar da civilização. O teatro nos permite ir além desse dia a dia tão repressor. A arte nos permite viver outras vidas além das vidas bem comportadas que a gente tem. Houve um tempo em que eu tinha que matar um leão por dia. Há 20 anos, mato três. Mas nós continuamos. Eles passarão; já nós..
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