A primeira memória musical de Alceu Valença remete a São Bento do Una, cantando no Cine Teatro Rex. ;Chegou um cara lá chamado Luiz Jacinto, o coronel Ludugero, comediante muito famoso da televisão, e perguntou a minha tia se ela conhecia algum menino para cantar em um festival destinado às crianças. E minha ela disse: ;Eu não conheço, não, mas o filho da minha irmã é muito doidinho, pode cantar.; Fui e cantei em cima de uma cadeira porque eu não alcançava o microfone.;
Alceu explica que a erudição presente nas canções nem sempre é notada por causa das performances que assume no palco. A poesia musical de Alceu foi, inclusive, notada por editoras fora do país. ;Já estão me convidando para fazer livros com minhas letras e minhas poesias. Tem até um livro que vai ser lançado em Portugal agora, pela Chiado Editora. Esse livro trará poemas e poesias retiradas das músicas.;
Entrevista com Alceu Valença
O disco tem influência do Movimento Armorial?
Tem. O que acontece é que a música do Nordeste é difícil separar. O menino é paraibano, o Matheus Freire. Ele, evidentemente, conhecia o Movimento Armorial. Mas, veja bem, uma música que não tenha a ver com o Nordeste, não tem armorial que faça ela ter essa aproximação. Teria que ser uma música feita no Nordeste, teria que ter o erudito, alguma coisa próxima ao armorial, com uma música que era minha.
Você acha que a música brasileira está vivendo um momento fraco?
Ela está perdendo a naturalidade, a espontaneidade. Se eu faço tchutchu tchutchu, um outro cara faz outro disco falando tcha tcha tcha. Aí o outro faz outra música tche tche tche;depois vem o tchi tchi tchi; São cinco músicas diferentes seguindo o mesmo modelo.
Tem remédio para isso, Alceu?
Tem. No momento em que houver curadoria. Por exemplo, em Brasília não tem isso, mas em muitas partes do Brasil, o dono da rádio é o dono da banda. Então, fica complicado, porque uma banda se associa a outra banda de outra cidade. E, aí, vai tocar a banda da outra cidade com a banda dele. Tá entendendo? É muito complicado.
Alceu, estamos em ano eleitoral e o Brasil caminha para mais um momento de decisões. A morte de Eduardo Campos transformou o cenário. Como você vê isso?
Estou muito traumatizado com a morte de Eduardo Campos. Não sei o que vou fazer. Vou deixar para decidir nas urnas. Não quero falar sobre política.
Ok. Então voltemos ao Valencianas;
Sim. Valencianas vai para Europa, com cinco shows em Portugal e vai fazer agenda aqui pelo Brasil. Devo ir para Brasília, "tomara, meu Deus, tomara" (risos).
Como foi a experiência de cantar acompanhado de uma orquestra?
Muito bom. O maestro canta o tempo todo. Mas tenho que cantar ali, de acordo com o que está escrito na pauta. Eu não posso cantar duas vezes o mesmo refrão. Pela primeira vez, Alceu Valença deixou-se dominar (gargalhada). Porque não pode mudar. É uma outra experiência. A vibração é muito boa, a orquestra é afinadíssima. O maestro Rodrigo Toffolo é muito sensível e o arranjador, o Mateus, é sensacional.
Alceu, a sua música tem uma erudição que nem sempre é notada. Isso é proposital?
É porque nos meus shows eu canto e pulo de um lado para o outro. Muitas vezes tem erudição por causa da música, mas também por causa das letras. Já estão me convidando para fazer livros com minhas letras e minhas poesias. Tem até um livro que vai ser lançado em Portugal agora, pela Chiado Editora. Esse livro trará poemas e poesias retiradas das músicas.
E você pretende escrever um livro?
Eu escrevi um livro chamado Inacreditáveis histórias verdadeiras, mas o computador desapareceu, foi roubado. Tem um HD, que não quer abrir. Bom, senão abrir, perdi meu livro, mas não tem problema, posso escrever outro.
Se conseguir recuperar, pretende publicar?
Claro. Tem esse livro e tem também um documentário que começa em São Bento do Una e vai até Paris, que é um documentário em versos sobre mim. E tem a aventura do filme, que não tem nada a ver comigo.
E biografia, Alceu, alguém se manifestou para fazer?
Isso eu não quero, não. Prefiro fazer minha auto-biografia.
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