No dia 1; de junho de 1964, o público carioca assistia, nas salas de cinema, a estreia de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Considerada um clássico do cinema nacional, a produção completa 50 anos. Para comemorar a data, uma exposição foi montada em Brasília. O evento antecede o 47; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no qual o diretor também será homenageado.
Quem for ao Museu Nacional do Conjunto Cultural da República terá a oportunidade de ver fotos feitas durante as gravações. Elas mostram cenas, atores, locações, a direção de Glauber Rocha, além de instalações com vídeos. Em uma das salas, é possível acompanhar a reprodução do roteiro original de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Filha de Glauber, a cineasta e produtora Paloma Rocha participou da abertura do evento.
Segundo ela, o filme marca a formação do cinema novo, ou seja, um processo de descolonização do cinema nacional, que sai dos estúdios. "É um filme que vai para as ruas, para o sertão. Isso representa uma revolução estética;, salienta, destacando, ainda, a atemporalidade da obra. ;O grande diferencial do Glauber é essa força poética. Ele traz poesia para a revolução. Isso transforma a luta de classe em uma questão atemporal. A poesia transcende o tempo e o filme não fica datado;.
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[SAIBAMAIS]O design Cristhian Lira também visitou a exposição. Ele conta que assistiu a produção quando era adolescente. Levou tempo para compreender o significado do que tinha visto, mas hoje tem o filme como marco. ;Quando você entende um pouco melhor, vê a originalidade e a tentativa de criar uma linguagem própria, de não ficar repetindo a linguagem americana. Foi quando comecei a entender a linguagem visual;. As fotos espalhadas pela galeria do museu chamaram atenção do estudante de Letras Noslen Salen. ;Vejo uma tentativa de encontrar uma identidade latina. Essas são as pessoas que nós temos. Não devemos idealizar um perfil;, comenta.
Para Paloma Rocha, a exposição tem significado especial. Junto com a família e a filha, ela trabalhou durante 10 anos para restaurar filmes, fotos, documentos e desenhos feitos por Glauber. O material exibido é resultado desse esforço. ;Foi um privilégio fazer essa restauração. Uma coisa muito importante no processo foi o desenvolvimento para o qual a obra do Glauber contribuiu. Hoje, a restauração digital de filmes no Brasil é uma realidade. Foi o primeiro filme restaurado em preto e branco na América Latina. A gente empreendeu uma tecnologia e um conceito de restauração digital que não existia antes. Abrimos portas;, acrescenta a cineasta.
Secretário de cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira destaca o papel da cultura na luta contra a ditadura militar e na reconstrução da democracia. "Deus e o Diabo na Terra do Sol é inquestionavelmente a mais poderosa construção simbólica da cinematografia brasileira. Nos devolve para os grandes dramas humanos vividos até hoje pela sociedade brasileira. É um filme que permanece. É libertário;, conclui o secretário.