Ricardo Daehn
postado em 08/09/2014 06:00
Uma carta de amor e ódio, escrita ao som de The idiot (Iggy Pop) entre doses de café e goles de uísque, antecedeu o velório de um rapaz de apenas 23 anos. Ian Curtis, uma jovem estrela do rock britânico, cantor que cultuou o suicídio e a teologia em suas músicas, encerrou a vida pendurado em uma corda. Ele foi encontrado sem vida na área de serviço de sua residência.
Atropelado por leituras intensas e abastecidas de ;sofrimento humano;, Ian seguiu o destino trágico de ícones como Sid Vicious, Kurt Cobain e Amy Winehouse. ;Ele tinha que beber e agitar as pessoas;, registra um amigo de infância no livro Tocando a distância: Ian Curtis e Joy Division, escrito pela viúva, Deborah Curtis. A atriz Helen Atkinson Wood, também próxima, atenta ;para a parte autodestrutiva da personalidade de Curtis;.
O conhecimento de preceitos nazistas (que geraram o nome da banda Joy Division ; referente a prazeres torpes dos soldados do famigerado Hitler) se mesclou à pesada leitura de Dostoiévski e de Jean-Paul Sartre, moldes que ajudaram a incitar sua personalidade trágica. Todo esse caos mental rendia letras que, segundo a viúva, tapeavam os fãs, inocentes em relação ao ;método tão público para gritar por ajuda;. Pela ordem, Ian amava música e roupas e tinha em Deborah apenas ;um acessório; para seu brilho (de acordo com a viúva). É ela quem atesta, com o devido ressentimento, a posição de ser relegada à mera ;lavadora de cuecas; do artista.
Mas não é somente a relação conjugal, ;subestimada; depois da criação da banda Joy Division (nas palavras de Deborah), que está em primeiro plano no livro. Para além do casamento, efetivado em 1975 (e quase cancelado pela assumida vocação ;infiel; de Ian), transparece o sucesso daquele homem que ;quis ser um herói romântico;, como ressalta o empresário Tony Wilson, que encarou o suicídio do amigo como um ;gesto nobre; e ;altruístico;, já que ;Ian estava completamente atormentado por si mesmo;.
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