As autoras são sempre mulheres e apostam numa fórmula simples: escrevem o que gostariam de ler e procuram montar tramas e criar personagens com os quais as leitoras sejam capazes de se identificar. ;Meus livros têm tendência a serem mais picantes que muitos romances, porque escrevo o que amo ler;, avisa Nicole Jordan, uma engenheira norte-americana que largou o trabalho numa fábrica de fraldas para escrever romances. ;Os leitores esperam um certo nível de sensualidade de meus livros. Sempre tenho uma cena de amor nos primeiros capítulos e, normalmente, uma ou mais cenas que forçam um pouco as fronteiras do romance. Eu quero que minhas cenas de amor tenham erotismo, não que sejam eróticas.;
O escritor e comediante Daniel O;Brien investigou os romances eróticos e chegou a uma lista de quatro passos a serem seguidos quando se trata de escrever livros eróticos. Aqui estão:
1 - NUnca escreva sobre o que as mulheres podem conseguir em casa e sim sobre o impossível
2- Seja insistente nos detalhes
3- Diálogo são importantíssimos: servem para construir o clima
4- Seja original
As autoras Irene Cao e Nicole Jordan ensinam o que não fazer:
1- Não seja vulgar
2- Inclua conflitos e emoções fortes antes de chegar às partes picantes
3- Esqueça a violência
Confira entrevista com Irene Cao
Por que você começou a escrever a trilogia erótica?
A ideia da trilogia nasce da ideia de um primeiro romance que comecei a escrever em torno de 2008 e que terminei em 2010. Mandei para o editor italiano Rizzoli que depois de um ano me mandou uma reposta: "trabalhe mais". Salvaram-se o núcleo central e uma ou outra cena visceral: parti dali e construí a estória de Elena e Leonardo. Assim nasceu a ideia de desenvolver a trilogia.
O que fazer e o que nunca fazer em um romance erótico?
Coisas que devem ser feitas: deixar andar, fazer fluir a escrita com verdade e sensibilidadee, reservando ao personagem dedicação sagrada e máximo respeito. Coisas que nunca devem ser feitas: usar palavras vulgares ou violentas. Não é se baseando no registro da violência que se atinge o ápice do erotismo.
Qual a diferença, na sua opinião, entre o romance erótico inglês e o italiano?
Com frequência, minha trilogia é comparada a Cinquenta tons de cinza. Mas quando comecei a escrever, o livro de E.L. James ainda não havia chegado à Itália. Claro que há um traço em comum ; é inevitável que toda história de amor caia no clichê ;, mas a que eu conto é sobre um mundo completamente diferente. Na minha trilogia, o sexo é "realístico" e os sentidos são protagonistas, não há nenhum "efeito especial": é uma história crível com a qual qualquer mulher pode se identificar. Além do mais, é uma trilogia profundamente italiana: pelo local na qual é ambientada (Veneza, Roma, Stromboli), pelo modo como os personagens são caracterizados, pelo tema que abordo. Não conto nada de sadomasoquismo, bondage (há apenas uma cena de bondage soft no primeiro livro, mas ela é funcional ao despertar dos sentidos de Elena): é uma escolha precisa porque acredito que, às vezes, sua autosuficiência ou é efêmera ou fica entre a fronteira do que é prazer e do que é uma momentânea perda de consciência que pode se tornar uma dor. Não sei se existe um "estilo italiano" verdadeiro e próprio para este gênero literário. O que eu fiz foi imprimir um estilo pessoal que mantive por toda a trilogia. Espero ter conseguido e ter transmitido eros, paixão e meu amor pela cultura italiana. Em algumas cenas, admito ter me inspirado em filmes como A doce vida, de Fellini, sobretudo no segundo volume, ambientado em Roma. No primeiro, no entanto, reconheço a presença de Luchino Visconti, enquanto no terceiro romance poderia ser associado a Stromboli, de Roberto Rossellini, onde o cineasta se apaixonou pela atriz Ingrid Bergman. Minha bagagem cultural é cheia de italianidade e essa italianidade emerge de maneira clara em cada página.
Por que começou a escrever romances eróticos?
Escrever não é algo que eu decidi. É algo que nasce de dentro. Escrevo desde sempre, mas a ideia do romance começou a crescer em mim em 2007. E não o havia imaginado imediatamente como um romance erótico. Estava mais para um "romance de formação", uma história de amor e de cura: a história de uma moça que, por meio de uma viagem em um país distante encontra o amor e desperta ao fazer uma viagem interna, dentro de si mesma. Como expliquei, é nessa situação de uma primeira tentativa de escrita que surgiu a trilogia. No entanto, não estou completamente imersa na etiqueta do gênero "erótico": o erostimo existe, mas no interior da trilogia se encontram outros registros, às vezes prevalece o romantismo, outras vezes o amor pela arte e pela cultura italiana. Mais do que um romance erótico, eu o definiria como um romance "erótico-romântico", se é que posso criar uma definição
Como construir a identificação entre os personagens e as leitoras?
A identificação acontece quando você dá à protagonista feminina um trato verídico, contando sobre sua vulnerabilidade, sobre seus medos e defeitos. Elena, no final das contas, é uma mulher na qual qualquer leitora pode se reconhecer.
O realismo é importante?
Do meu ponto de vista, o realismo é importantíssimo. Se você contar uma história com sinceridade, uma história que se assemelhe à verdade e ao cotidiano, permite ao leitor se identificar imediatamente com o personagem e sentir-se a própria protagonista de vez em quando.
E qual deve ser o papel da mulher no romance erótico?
Deve ser o papel de vencedora, não o da mulher submissa. A mulher deve se sair bem. Quando comecei a escrever a trilogia, preservei a dignidade da protagonista feminina ao ponto de ser esta uma das minhas maiores preocupação: na história que conto, Leonardo "ensina" o prazer a Elena, mas sem humilhá-la.
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Confira entrevista com Nicole Jordan
Vocês escreve principalmente romances de época. Por que?
Eu sempre fui uma leitora ávida de romances históricos. Eu tinha oito anos quando minha mãe leu Orgulho e preconceito e fui autorizada a ler A Pimpinela escarlate. Fiquei viciada desde então. Mas todo aquele mundo resplandescente, com suas maneiras apropriadas e estrutura social com ênfase na aristocracia rançosa e espirituosa, com tiradas provocativas, carregava uma espécie de apelo de contos de fadas para mim. Ao longo dos anos, eu também escrevi outros romances localizados em outros tempos e períodos (Escócia, América nativa, medieval, sheiks no deserto da África, América do Sul, Ilhas Britânicas do Oceano Índico, etc), mas Regency tem um lugar especial no meu coração, provavelmente por causa da minha iniciação muito jovem.
Sensualidade, paixão e erotismo são ingredientes importantes nos seus livros. Por que? E qual o limite da vulgaridade?
Primeiro de tudo, escrevo histórias de amor. Meus livros têm tendência a serem mais picantes que muitos romances porque eu escrevo o que amo ler. E agora, meus leitores esperam um certo nível de sensualidade de meus livros, então trabalho duramente para atender a essa demanda. Eu sempre tenho uma cena de amor nos primeiros capítulos e, normalmente, uma ou mais cenas que forçam um pouco as fronteiras do romance. Eu quero que minhas cenas de amor tenham erotismo, não que sejam eróticas. A diferença? O erótico foca principalmente o sexo, enquanto o romance trata de amor e relacionamentos, do qual sexo é uma parte muito importante. E como sou extremamente romântica no coração, eu foco no romance. Eu aprecio que tenha uma tensão sexual entre homem e mulher ; essa espécie de fagulha de atração que, eventualmente, se desenvolve em algo mais profundo e rico que conduz à satisfação. Para mim, um forte relacionamento físico pode simplesmente empurrar na direção de um forte relacionamento emocional. Eu também tento investir em fantasias que têm apelo para criar cenas românticas com as maioria de nós só pode sonhar (infelizmente). Se eu tiver feito meu trabalho direito, a paixão entre meus herois é especial e deixa os leitores pensando "queria que fosse comigo".
Você escreve romances eróticos históricos há mais de uma década, mas você sente que algo mudou nesse mercado desde a publicação de Cinquenta tons de cinza?
Meu primeiro romance foi publicado nos Estados Unidos, em 1987. Foi apenas na última década que meus romances começaram a ser publicados no Brasil. Os romances se tornaram, definitivamente, mais picantes e mais variados nos últimos anos por causa da demanda do leitor. O mercado de literatura erótica decolou nos Estados Unidos nos últimos 10 anos. Na minha opinião, Cinquenta tons de cinza foi um ápice natural. Muitos leitores preferem cenas de amor mais explícitas ; se elas forem bem feitas, claro.
Por que certos leitores preferem os romances eróticos de época?
Os gostos dos leitores mudam constantemente! Há 15 anos, romances de época estavam em alta nos Estados Unidos. Antes, eram os romances de faroeste e nativos americanos. Recentemente, romances eróticos ganharam um lugar enorme e agora são histórias contemporâneas, adocidadas, domésticas que têm espaço. Mas eu acredito que os leitores vão sempre apreciar estórias que os levam para longe e permitem que vivam indiretamente aventuras e paixões de personagens maravilhosos.
Você pensa no leitor enquanto escreve?
Sim, sempre! Meu objetivo sempre foi agradar os leitores que gostam de romances históricos apimentados. Meu maio desafio é criar histórias e personagens que são originais e interessantes. Eu também quero que haja conflitos e emoções fortes o suficiente para fazer os leitores rirem, chorarem e se apegarem aos meus herois para encontrar o final feliz junto com eles. Mas como um sinal de que os tempos estão mudando, os livros que escrevo têm um tom um pouco mais iluminado do que as séries Notorious e Paradise. Eu tratei de adicionar, conscientemente, humor às minhas histórias. Humor espirituoso não somente é engraçado de escrever, mas é divertido para os leitores lerem. Meus romances das séries Courtiship Wars e Legendary Lover têm menos angústia e mais charme quando foco no delicioso afasta-aproxima da atração e das fagulhas entre duas pessoas com objetivos opostos. Sou muito grata de ter um imenso suporte dos meus leitores ao longo dos anos. São os leitores que nos mantém, a nós autores, empregados fazendo o que mais gostamos de fazer. Eu não teria uma carreira de escritora sem eles.
E por que decidiu deixar seu trabalho como engenheira para escrever romances eróticos?
Na verdade, eu comecei a escrever como uma válvula de escape do meu trabalho altamente estressante na confecção de fraldas Pampers! Eu era engenheira de produção, mas adorava escrever, tanto que se tornou uma paixão. Além do mais, tenho um marido maravilhoso que sempre me apoiou ao longo dos anos enquanto eu estava aprendendo esse novo trabalho. Como engenheira civil, eu tive que ensinar a mim mesma a partir dos rascunhos.
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