Ricardo Daehn
postado em 04/08/2014 06:15
Dono de um cinema estiloso, desde o despontar com A dama do cine Shanghai (1987), o diretor Guilherme de Almeida Prado sempre apostou em longas que exploram referências cinematográficas, como o Perfume de Gardênia (1992) e Onde andará Dulce Veiga? (2007). Algo, no entanto, mudou, ao menos momentaneamente, em seus objetivos, como deixa bem claro na entrevista abaixo.
Seu novo filme, A palavra, parece fugir da corrente em voga atualmente explorada pelo cinema nacional. É isso mesmo? Que público vislumbra?
A Palavra pretende descobrir se existe um filão novo, paralelo ao espírita, mas com um público potencialmente maior, os evangélicos. Conversei com vários pastores e tentei adivinhar o tipo de filme que esse público quer. Há demanda, porém, por clichês importados. Faz mais de 100 anos que os pastores dizem que ir ao cinema é pecado. Os tempos estão mudando, espero, os crentes já assistem à televisão, usam bermuda, têm facebook, e meu filme vai em busca dessa vertente, mas o resultado é um total mistério. Qualquer previsão é futurologia.
Não é assustador enfrentar um público tido como religioso?
Assustador é enfrentar a burocracia estatal ignorante. Público nunca me assustou. A ideia principal do filme é mostrar, em forma de fábula, que as histórias contadas na Bíblia podem ser encontradas no nosso dia a dia, tanto nas nossas vivências como em nossa política. Eu apenas peguei as tramas e personagens da Bíblia e adaptei suas histórias para os dias de hoje. Fui buscando paralelos. Fiz da forma mais respeitosa, mas procurando não ser piegas. Qualquer filme é uma colagem de arquétipos. Essa colagem pode ser boa ou ruim. Eu trabalhei com os mesmos elementos, adaptando para o Nordeste brasileiro. A caatinga tem um quê de Israel.
Você está satisfeito com o tom atual da produção brasileira?
Tenho visto pouquíssimos filmes brasileiros que me satisfazem. Acho que a política cinematográfica está equivocada e vai nos levar a mais um beco sem saída, como foi o fim da Embrafilme. Nunca houve tanto dinheiro para se produzir, mas nunca fizemos tantos filmes tão medíocres. A quantidade nem sempre nos traz a qualidade. O resultado é uma inflação brutal nos custos de produção e uma deflação de talento por centímetro quadrado de tela.
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