Nahima Maciel
postado em 30/07/2014 09:54
Um artigo publicado na revista The New Yorker, em 1998, fez o escritor norte-americano Andrew Solomon se dar conta de que a depressão é um tema pouco abordado e muito carente no mundo da literatura. Após publicar o texto, ele recebeu mais de 7 mil cartas de leitores que se identificavam com as situações descritas ou que entendiam o desespero do autor. Solomon começou então a pesquisar.
Partiu da própria experiência para tentar compreender o sucesso do artigo e chegou à conclusão de que a literatura que trata da depressão é também responsável por relegar a doença a compartimentos fechados de campos de estudo específicos. Solomon, que é um dos convidados da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) que começa nesta quinta-feira (31/7), queria ler mais que isso e, para tal, fez ele mesmo o seu compêndio sobre a doença.
Demônio do meio-dia ; Uma anatomia da depressão, sobre o qual o autor fala na sexta-feira na Flip, é uma espécie de mapa da doença construído a partir de sua própria vivência. Ele sofre de depressão desde a infância e acredita na escrita como forma de controle e compreensão do mal capaz de, periodicamente, derrubá-lo e isolá-lo do mundo. ;Eu tive uma depressão terrível e, quando consegui emergir dela, eu queria ler um livro que me ajudasse a entendê-la;, conta.
Referência
;Comecei a fazer minha pesquisa e vi que havia muitos relatos pessoais e muitos livros científicos sobre o tema, mas havia poucos livros de filosofia e sociologia, e não havia nada que colocasse tudo junto. Pensei que precisava de um livro capaz de descrever a experiência de todos esses pontos de vista. Então comecei a escrever;, completa o autor.
Confira trecho de Demônio do meio-dia, de Andrew Solomon
;No verão depois do meu último ano de faculdade, tive um pequeno colapso, mas na época eu não rinha ideia do que era. Estava viajando pela Europa, curtindo o verão que sempre desejara, completamente livre. Fora uma espécie de presente de formatura dos meus pais. Passei um mês esplêndido na Itália, depois prossegui para a França e em seguida visitei um amigo no Marrocos. Fiquei intimidado pelo Marrocos. Era como se eu tivesse sido libertado demais de restrições demais. Eu me sentia nervoso o tempo todo, como me sentia nos bastidores pouco antes de entrar numa peça das escola. Voltei a Paris, encontrei-me com mais alguns amigos e depois fui para Viena, uma cidade que sempre quisera visitar. Não consegui dormir em Viena. Cheguei, instalei-me numa pensão e encontrei alguns velhos amigos que também estavam lá. Fizemos planos para viajar juntos a Budapeste. Saímos e tivemos uma noite agradável. Depois voltei e fiquei acordado a noite toda, aterrorizado com algum erro que pensei ter cometido, embora não soubesse qual. No dia seguinte, eu estava tenso demais para enfrentar um café da manhã numa sala cheia de estranhos. Quando saí ao ar livre, me senti melhor, decidi visitar algum museu e cheguei à conclusão de que provavelmente estava apenas me sobrecarregando. Meus amigos tiveram que ir jantar com outra pessoa e, quando me contaram isso, senti-me atingido até o âmago, como se estivesse ouvindo uma trama de assassinato. Concordaram em se encontrar comigo para um drink depois do jantar. Eu não jantei. Simplesmente não conseguia entrar num restaurante estranho e pedir a comida sozinho (embora tivesse feito isso muitas vezes antes). Também não conseguia iniciar uma conversa com ninguém, Quando finalmente me encontrei com meus amigos, eu estava tremendo.;
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