As escritoras Ana Maria Gonçalves (BA) e Paulina Chiziane (Moçambique) participam nesta quarta-feira (23/7), às 16h, da conferência de abertura Diálogos Afro-Atlânticos. Autora do emblemático Um defeito de cor, Ana Maria abordará a questão da construção da identidade da mulher negra e os estereótipos que elas enfrentam. ;Muitas vezes, as negras não são consideradas boas mulheres para casar, e, sim, para transar. Elas têm direito ao amor e a serem amadas, tanto por homens brancos quanto por homens negros;, diz. ;Outro preconceito que elas enfrentam é a imagem da mulher imbatível. Todas têm o direito de chorar e de ficar tristes. A desconstrução dessas representações é uma questão importante para deixar a vida delas mais leve e plena, além da melhora da autoestima individual. Porém, é importante lembrar: esses estereótipos são um problema de toda a sociedade;, completa Ana Maria.
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Autora de Ventos do apocalipse (1995) e O sétimo juramento (1999), Paulina Chiziane é a primeira mulher moçambicana a escrever um romance (Balada de amor ao vento foi lançado em 1990). Sobre o título, Paulina adverte: ;Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance, mas eu afirmo que sou contadora de estórias, e não romancista. Escrevo livros com muitas hitórias, histórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte;, destaca a escritora.
A observação de Paulina está na orelha da edição portuguesa de seu mais recente livro, Niketche, uma história de poligamia (2004), que mostra a trajetória de uma mulher moçambicana ao descobrir que o marido é polígamo. O susto e a surpresa ao saber que existem outras esposas e filhos é seguido por uma decisão surpreendente: a protagonista decide ir atrás das outras famílias e parte para uma incursão pelo desconhecido e pelas diferenças culturais. Em Brasília, Paulina abordará a identidade africana e as religiões mundiais.
Outros temas
Atenta aos casos de racismo na literatura, a mineira, radicada em Salvador, Ana Maria Gonçalves já se manifestou sobre em episódios em que vários escritores preferiram a omissão. Sobre Caçadas de Pedrinho e Monteiro Lobato, Ana Maria relembrou as origens eugenistas e racistas do pai de Emília. No carnaval de 2011, a escritora publicou a Carta aberta ao Ziraldo, em que critica o cartunista pelo desenho na camisetas do bloco carnavalesco carioca Que merda é essa?, que estampava Monteiro Lobato abraçado a uma mulher negra de biquíni. ;Fiquei curiosa para saber se você conhece a opinião de Lobato sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria que não. Eu te respeitava, Ziraldo. Esperava que fosse o seu senso de humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos (;);, escreveu Ana Maria.
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