Há 50 anos, Rogéria estreava nos palcos do Rio de Janeiro como atriz. A ex-maquiadora da extinta TV Rio foi a primeira transexual a aparecer na televisão brasileira. Anos depois, o país se encantou por outra vedete: Roberta Close. Apesar de as duas serem responsáveis por abrir várias portas nos anos 1980, só agora, mais de 30 anos depois, as transexuais conquistaram um espaço tanto na tevê nacional quanto internacional.
O medo do estigma é justificado pela loira: ;Quando você é uma transexual ou uma travesti, as pessoas não te dão muita oportunidade. Ninguém te vê com bons olhos. Você quase nunca vê uma transexual fazendo um papel sério. É sempre aquela coisa caricata e com ar de deboche;, ressalta Carol.Até, por isso, a artista diz que fica feliz de ter conseguido papéis que mostram as dificuldades de uma transexual. ;Não gosto de levantar uma bandeira, pois um grupo, de certa forma, se afasta da sociedade. Mas sinto que preciso explicar para as pessoas o que acontece. Sinto-me na obrigação de levar essa informação. As pessoas podem até não gostar, mas assim elas aprendem a respeitar;, defende Carol.
Três perguntas para Carol Marra
Como você se descobriu transexual?
Eu queria ser jornalista de moda, então fiz jornalismo e por ser tímida comecei a fazer teatro. Logo me encantei com produção. Larguei tudo e comecei a fazer produção de moda. Tinha que produzir atrizes e modelos para a capa das revistas. Era como brincar de boneca. Nessa época, eu me vestia meio andrógino, pois, morava com meus pais e tinha que manter essa relação de respeito. Escondida em casa, montava os looks, me vestia e ficava me olhando. Deixava as roupas no porta mala do meu carro para vestir depois que saía de casa. Fiz isso durante anos, na infância eu ficava de castigo por agir como mulher. Até que um dia vi que eu não era feliz, que isso era uma mentira. Procurei um médico que explicou para os meus pais que eu era transexual.
Você costuma dizer em entrevistas que não gosta de levantar bandeiras. Por quê?
Sou muito pé no chão, não me deslumbro. Nunca quis ser famosa e acho que a gente nunca tem dimensão do que está fazendo. Nunca quis levantar bandeira de um grupo porque acho que isso é estar se afastando da sociedade. Criar um gueto é uma forma de se descriminar. Mas sinto que preciso explicar para as pessoas o que é ser transexual. A partir do momento que a minha realidade vira assunto de discussão da mesa de uma família, acho que isso faz o preconceito ser menor.
Estamos em ano de eleições, o que você gostaria que os candidatos fizessem pelos transgêneros?
Queria ver candidatos que tivessem outro olhar. Na hora de votar e pagar impostos somos como qualquer cidadão, mas na hora de termos nossos direitos somos esquecidos. O nosso código penal é muito atrasado. Hoje uma trans é obrigada a usar o nome de batismo. É difícil trocar de nome. A gente também não tem leis que equiparem o racismo a homossexuais e a transexuais a um crime.
Reconhecimento
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Nos Estados Unidos, a atriz Laverne Cox, a Sophia de Orange is the new black, também tem conseguido atravessar barreiras. No ar desde 2013 na comédia exibida pelo Netflix, ela conquistou esse ano algo inédito: é a primeira transexual a ser indicada a um Emmy Awards, um dos prêmios mais respeitados da televisão internacional. Laverne disputa a estatueta de melhor atriz convidada em série cômica. Ganhando ou não o prêmio, Laverne Cox já conseguiu destaque mundial. Após o anúncio, ela estampou a capa da revista Time, na qual contou como se descobriu mulher. ;Na minha imaginação, achava que chegaria à puberdade e começaria a virar uma menina;, afirmou à publicação norte-americana.
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