Nesta entrevista, o artista santista relembra a longa carreira de
50 anos, os amigos da jornada, as histórias marcantes e aproveita para descrever o panorama da
profissão, aos 70 anos de idade ; a serem completados na próxima sexta-feira, 25 de julho. ;O
septuagenário aniversário é o principal motivo de celebração;, diz. Depois do susto, em 2012,
quando passou 40 dias entre a vida e a morte em um hospital, ele faz questão de garantir: ;Estou
ótimo;. Entre os fortes traços da personalidade, o humor jamais o abandona: ;Capricha na
matéria, hein?;, pediu. Para garantir, ele caprichou no papo.
Confira trecho da entrevista com o ator Ney Latorraca
Seus pais eram do meio cultural;Minha mãe era corista e meu
pai cantor, crooner do Casino da Urca. Minha mãe chegou a trabalhar com Grande Otelo, que é meu
padrinho de batismo. Eu nasci em 1944. No ano seguinte, os cassinos fecham e a vida vira um inferno.
O que fazer com aqueles músicos, cantores? Meu pai foi para o rádio. Eu mesmo cheguei a fazer rádio,
com 6 anos. Minha mãe foi vender umas coisas, acabou virando dona de casa.
Muitos
não imaginam que você passou por dificuldades, na infância. Como lidava com o
cotidiano?Às vezes, não tinha o que comer. Então, eu dormia mais cedo para
esquecer a fome. Era uma técnica. Enquanto criança, não tive catapora, essas doenças; Pobre não tem
tempo de ter essas coisas. Tive uma forte anemia, por falta de alimentação mesmo. Demorou a
engrenar. Minha mãe começou a fazer marmitas para fora, vender algumas coisas. Mas a melhora não
veio logo. Tanto que, aos 14 anos, eu já trabalhava para ajudar em casa.
O lado
ator despertou cedo?Desde a escola. Lembro-me do professor Paulo, que dava
aulas de desenho. Eu não conseguia nota para passar, então ;incorporava; umas entidades em sala de
aula. E ficava falando: ;Ele precisa de nota! Aprove essa entidade;. Toda uma brincadeira, e ele
acabava cedendo. Eu enlouquecia os professores. Era muito levado. Teve um professor de inglês que
chamou minha mãe e disse: ;Esse menino precisa fazer teatro. Ele tem que ir para o palco;. Na
própria escola, que era pública, havia um grupo de atores. Eu entrei para esse grupo. Ali começou.
Dali, nunca mais saí.
No início da carreira, foi preciso conciliar os palcos com
outras atividades;Sim. Fazia teatro, mas fui ser vendedor de roupa
feminina, trabalhar em casas de joias semipreciosas; Eu morava sozinho, em São Paulo. Tentei morar
em uma pensão e não aguentei. Era um apartamento pequeno, com colchão no chão, uns cartazes de
teatro nas paredes. Fui em frente.
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