Diversão e Arte

Roqueiros investem em trabalhos solos para construir uma obra mais pessoal

O pernambucano Bruno Souto, 35, o gaúcho Guri Assis Brasil, 28, e o brasiliense Jair Naves, 32, são exemplos de artistas que apostaram nas carreiras solo

postado em 08/07/2014 08:27
O pernambucano Bruno Souto: disco solo depois de 10 anos de estrada
Formar uma banda de rock é uma porta de entrada para muitos jovens que almejam trabalhar com música. A carreira nas bandas pode ser duradoura, mas cada vez mais roqueiros têm investido em trabalhos solos, como uma forma de expandir os horizontes e construir uma obra mais pessoal. O pernambucano Bruno Souto, 35, o gaúcho Guri Assis Brasil, 28, e o brasiliense Jair Naves, 32, são exemplos de artistas que apostaram nas carreiras solo e hoje colhem os frutos dessa escolha.

Foi depois de 10 anos ao lado da banda Volver que Bruno Souto decidiu lançar o seu primeiro disco solo, Estado de nuvem (2013). O gatilho para a empreitada foi a canção Dentro, que o músico compôs no fim de 2012 e o inspirou de tal forma que ele não quis que ela se tornasse mais uma entre as outras de sua ;gaveta;. ;Eu até cogitei a ideia de lançar a música com a Volver, mas aquilo era uma coisa tão pessoal, que decidi juntar uma série de canções que dialogassem entre si e gravar um disco completo;, explica Bruno.



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Dentro é uma amostra perfeita do que é o álbum de estreia do pernambucano: romântico, erótico, amargo e visceral. É impossível ouvir o disco e não pensar em referências como Odair José ou Erasmo Carlos, ao mesmo tempo em que a obra mergulha em fontes diversas, como o rock, o pop, reggae e o soul. ;Com a Volver, eu me impus uma série de limitações estéticas das quais eu mesmo não queria sair. Uma das principais motivações para fazer um trabalho solo era explorar novas sonoridades. Sou roqueiro, mas não escuto só rock. Queria brincar com teclados, sintetizadores, ritmos diferentes;, conta.

O resultado foi uma obra na qual, com um peso menor das guitarras, o que transparece é a canção. ;Acho que estão faltando boas canções na música brasileira. Na Volver, talvez não houvesse espaço para que elas se mostrassem tanto. Estado de nuvem é um trabalho mais intimista, que valoriza a canção. Apesar de ter rock, agora este é mais um elemento entre os outros;, reflete. Para Bruno, a carreira solo possibilitou que ele chegasse a um novo público e trilhasse um caminho diferente. O reconhecimento veio rápido, com o seu disco figurando nas principais listas de melhores do ano de 2013.


Mistura brasileira

O gaúcho Guri Assis começou a compor as próprias canções

Apesar do extenso currículo na cena independente brasileira, o músico gaúcho Guri Assis demorou 16 anos para compor a sua primeira canção. "Eu me mudei para São Paulo há uns quatro anos e, além de continuar com a minha banda há mais de 10 anos, a Pública, comecei a acompanhar diversos artistas, como Junio Barreto, China, Bárbara Eugênia e Otto. De uns tempos para cá, a Pública diminuiu o ritmo de shows, e eu não queria ficar só tocando música para os outros, então pensei em compor as minhas próprias", explica Guri, que lançou o seu álbum de estreia, Quando calou-se a multidão, no fim de 2013.

Sonoramente, Guri quis se distanciar da sua produção com a Pública: "Tirei instrumentos como o piano, que a banda utilizava muito, e explorei outros elementos. Mas o disco ainda tem muitos vícios sonoros. Não acho que consegui me desprender da sonoridade da banda. Fiquei com medo de ousar muito e me arrepender". Dessa forma, o rock gaúcho ainda está presente, mas ao lado de outras referências, como a música brega dos anos 1970. "Depois que toquei com Junio Barreto, comecei a pensar de forma diferente e a querer explorar mais a música brasileira, que é muito rica. Hoje, me chama muito mais a atenção a mistura de rock com MPB, do que o rock cru e clássico", revela Guri.

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Novas sonoridades

O brasiliense Jair Naves optou pela carreira solo porque queria trabalhar com mais liberdade eclética

Em 2012, foi a vez do músico Jair Naves lançar o primeiro disco solo, E você se sente numa cela escura, planejando a sua fuga, cavando o chão com as próprias unhas, obra que rendeu ao artista o prêmio de Revelação na categoria Música Popular pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), além de estar presente nas listas de melhores do ano de várias publicações. O brasiliense radicado em São Paulo fazia parte do Ludovic, uma das principais bandas da cena independente nacional dos anos 2000, com influências de Sonic Youth a Fellini.

;Eu tive banda durante uns oito anos e foi um trabalho muito intenso e desgastante. Quando acabou, passei um ano decidido a não fazer mais música. Não estava disposto a passar por tudo aquilo de novo. Mas depois comecei a sentir falta e decidi lançar uma coisa só minha, em que pudesse tomar as decisões e ter uma liberdade estética maior;, conta Jair, que, apesar de compor letras confessionais desde a época do Ludovic, apostou em uma sonoridade mais intimista na carreira solo, sem deixar de ser rock;n;roll.

;Não queria trabalhar com um formato quadrado, agressivo, embora ainda tenha algo disso no meu trabalho por causa das minhas influências. Mas hoje posso explorar instrumentos como a sanfona ou o violão com cordas de nylon, por exemplo;, explica Jair. Atualmente, o músico está trabalhando na produção do segundo disco, que recebeu apoio dos fãs por meio do site de financiamento coletivo Catarse.

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