Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Serviços que garantem o direito autoral conquistam cada dia mais adeptos

Spotify, Deezer e Rdio permitem baixar faixas com qualidade, de graça ou pagando pouco



;O Spotify nasceu para ser melhor alternativa. Em termos de produto, a pirataria é grátis e todo mundo adora. O problema é que o modelo de negócio não fecha. Não adianta combatê-la somente do ponto de vista jurídico. É preciso criar um produto melhor;, explica Gustavo Diament, diretor-geral do Spotify para a América Latina. Surfam nessa onda não apenas o Spotify mas também o YouTube e serviços como Deezer ou Rdio, também especializados em música em streaming.

Liderança

Consumir áudios desse jeito significa que você não precisa baixar para o seu computador, seja de forma legal ou não. Por meio de uma rede de internet você consegue ouvir de onde estiver, apenas contando com uma conexão em banda larga satisfatória. Os serviços têm em comum o fato de poderem ser acessados via computador ou dispositivos móveis como telefones celulares e tablets. As variações estão na interface dos aplicativos e preços de assinatura, já que o acervo é crescente em todos os casos.

O Deezer e o Spotify surgiram em 2006. O primeiro na França, criado por Daniel Marhely, então com 20 anos. O segundo foi lançado em Estocolmo, na Suécia, implementado por Daniel Ek. A expansão do sueco pela Europa foi rápida, mas gradual. De acordo com dados apresentados pela empresa, atualmente detém a liderança entre os concorrentes com 40 milhões de usuários cadastrados.

O francês chegou primeiro em terras brasucas, em meados de 2013. Este é o primeiro mês de operação do Spotify por aqui. De acordo com Gustavo Diamet, a demora do lançamento foi porque faz parte da filosofia da empresa se preparar para encarar mercados diferentes. ;Existe uma preparação para que ele seja relevante no país de lançamento. Há todo um catálogo licenciado e um trabalho editorial de curadoria;, diz. Na estreia brasileira são 30 milhões de músicas no acervo. O diretor não consegue precisar o quanto disso é dedicado à produção nacional.

Liberdade

É possível ouvir música de graça pelo Spotify ou pagar pelo serviço. Aqueles que optam pela assinatura de US$ 5,99 (a previsão é que logo a cobrança se converterá para reais no valor fixado em R$ 14,90) tem direito de baixar as faixas para o dispositivo e ouvir sem conexão à internet, melhor qualidade do áudio e também ausência de publicidade. O acesso ao banco de dados é exatamente o mesmo para quem paga ou não. A diferença é que vez ou outra aparecem as propagandas. É por isso que o diretor insiste em dizer que o Spotify enfrentou a pirataria de igual para igual.

A legalidade é o pulo do gato. Não são os usuários que alimentam o banco de dados. São os chamados agregadores, que podem ser as gravadoras ou editoras. Cada vez que uma música é executada em mais de 30 segundos os autores recebem um percentual. ;Tudo o que o Spotify gera de receita, 70% é pago em direito autoral. Em menos de seis anos já pagamos US$ 1 bilhão sendo metade disso somente no ano passado;, informa Gustavo.

Na prática, para cada artista, o valor ainda é pouco, mas representa alguma coisa diante da pirataria. A banda mineira Constantina, por exemplo, foi recentemente surpreendida com o depósito dos royalties das execuções dos fonogramas na Europa. Como tem parceria com o selo inglês Dry Cry Records, as canções foram cadastradas no aplicativo europeu. No início deste ano, o Constantina fez uma turnê de cerca de um mês pelo velho continente e, agora, o rastro do Spotify pingou na conta: 80 libras, o que equivale a cerca de R$ 200 pelas execuções no serviço de streaming. ;Acho que lá fora já existe um pensamento de consumo de música. Aqui ainda não tem essa cultura;, observa Daniel Nunes, um dos integrantes do Constantina.

De olho no futuro

Para o responsável pela área digital da gravadora Biscoito Fino, Miguel Gonzalez, a adaptação será uma questão de tempo. ;O CD matou o vinil? O digital matou o vinil? Os serviços de streaming matariam o CD? Difícil responder essas questões. É certo que os serviços de streaming vão crescer muito, e a venda de CDs deve continuar na tendência de queda que vem sendo registrada nos últimos anos;, afirma. Segundo ele, o momento é mesmo de recuperação para a indústria. ;Não só para a Biscoito Fino, mas para todas as gravadoras. O consumidor não vai se incomodar de pagar um valor justo para consumir música de forma legal.;

;A venda do CD ocorre apenas uma vez, no ato da compra e os royalties são passados. A pessoa ouvirá o álbum centenas de vezes e não será pagará por essas novas execuções. Já no streaming o consumidor paga mensalmente, então os pagamentos se perpetuam ao longo dos meses, de acordo com o consumo das músicas. É como se comparássemos o modelo de venda com o de aluguel. Na venda, você ganha apenas uma vez e, no aluguel, você ganha menos, porém de maneira frequente. Além dessa mudança de modelo de geração de receitas, é importante participar desses serviços pelo ganho promocional de engajamento e proximidade que trazem com os fãs do artista;, explica Cláudio Vargas, vice-presidente de marketing, digital, vendas e novos negócios da Sony Music.

Tendências

Como Miguel Gonzalez ressalta, não estar em serviços de streaming significa que o artista está ausente das novas tendências de consumo. ;O futuro da música é o consumo por meio de plataformas digitais;, garante. Apesar dessa segurança, a transição entre os modelos de capitalização não é simples. ;Para os provedores de conteúdo, as gravadoras que estavam acostumadas a vender CD, é uma transformação abrupta e adaptação intranquila;, aponta o consultor Felippe LLerena, diretor da Music Post. Especializado no mercado digital, ele atua como agregador, cadastra acervos musicais. É ele, por exemplo, quem disponibiliza o trabalho dos mineiros da banda Manitu em todas as plataformas.

Segundo Felippe a intranquilidade está principalmente no fato de artistas e gravadoras perderem o controle do quanto receberão no fim do mês. Se nos tempos de venda de CDs era possível acompanhar como andavam as vendas, pela lógica do acesso somente terminado o período de 30 dias é que saberão a possível receita.

Gustavo Diament, do Spotify, lembra que a lógica agora é a do acesso e não da propriedade. ;Do ponto de vista do usuário não precisa ser dono de nada. Do ponto de vista do artista existe a meritocracia: se o escutarem muito, você vai ganhar;, sintetiza. A avaliação de Felippe é de que os serviços de streaming oferecem mais oportunidades para os músicos independentes. ;A diferença é que no inconsciente coletivo das pessoas são menos conhecidos, mas o espaço que ocupam dentro da nuvem é igual ao do Coldplay;, diferencia.