Ricardo Daehn
postado em 22/05/2014 08:55
;A vida é uma casa que construímos com as próprias mãos, criando calos, esfolando joelhos, respirando poeira;, sentencia a escritora Lya Luft, no novo livro da gaúcha O tempo é um rio que corre. Empenhada em impedir que o destino final fuja da mera, e esperada, dobradinha de ;cinzas e ossos;, Lya torna pública aquela que ;é a guardiã da vida;: a memória. Generosa, em tom de confidência, ela divide a experiência de mulher criada em tempo no qual rapazes faziam ;mal; a moças e em que a forja de caráter podia advir de ;pensamentos e atos nobres;. Na leitura, cada fase da vida descrita vem a reboque de despedidas ;de si mesma;.
As disposições humanas, em conluio com o tempo e a morte, fermentam de forma assumida a literatura de Lya Luft, que opera no âmbito das transformações. A publicação é dividida, daí, em Águas mansas, Maré alta e A embocadura do rio. Na primeira parte, a autora nos conta de angústias infantis, de liberdades e cerceamentos, do trajeto natural para se tornar (em geral) um ;cidadão desinteressante; (leia-se, o rumo de todos ao mundo adulto) e ainda da dinâmica da vida ;arrastando as pantufas nos corredores do tempo;. Nas recordações dela, há desqualificação da noção estabelecida de que a infância seja um mar de rosas.
Brota, portanto, a investigação das muitas fantasias inerentes às ;crianças dos dias sem televisão nem computador;. ;Naquele tempo sem tempo a verdade parecia estar nos livros: ali calavam as respostas e moravam os silêncios;, sublinha Lya Luft. Não apenas no período de formação, há intervenções dos pais no registro memorialista. O amor à vida foi entremeado pela mãe (que ;com quase 100 (anos), nem está nem se ausenta;), enquanto o pai desfruta de mais nítida relevância.
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