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Livro conta bastidores da biografia proibida de Roberto Carlos; confira

"Se ele tiver um amigo, um conselheiro, alguém vai dizer para ele não insistir mais nisso. 'Volte a fazer canções, que o Brasil te ama por isso'", dispara autor


O jornalista baiano Paulo Cesar Araújo conta no livro O réu e o Rei (Companhia das Letras, R$ 45) os bastidores da polêmica biografia Roberto Carlos em detalhes, lançada em 2006 e recolhida no ano seguinte, após batalha judicial e acordo entre o autor, a editora e o cantor. "Espero que ela leia o livro. Da outra vez, ele abriu o processo sem ter lido. Eu conto os detalhes sobre ser acusado sem ele ter lido", reclama o historiador e jornalista, que é também fã de Roberto Carlos.

As primeiras críticas de Roberto Carlos contra Paulo Cesar foram em novembro de 2006, durante a coletiva de imprensa sobre o especial de Natal do Rei, quando anunciou que abriria um processo judicial. Para Paulo, O réu e o Rei é um livro iluminador, tanto sobre a realidade dos biógrafos brasileiros quanto sobre a própria história do cantor e compositor.

"Roberto não construiu a história dele sozinho. A história foi construída por uma multidão de brasileiros", acredita. Para o livro, ele utilizou dados e entrevistas coletados durante 16 anos. Mais de 250 pessoas foram entrevistadas no processo de pesquisa. "Eu sou apenas mais um fã na multidão de brasileiros", compara Paulo.

Ele foi alvo de críticas do grupo Procure Saber - apoiado por Caetano Veloso, Paula Lavigne, Milton Nascimento e Gilberto Gil, entre outros. O cantor compositor carioca Chico Buarque chegou a negar ter concedido entrevista para a biografia, em carta aberta, mas o autor apresentou fotos do encontro dos dois e o áudio da entrevista.

Paulo Cesar quer relançar Roberto Carlos em detalhes após a aprovação da lei que permite a publicação de biografias de figuras públicas sem autorização, em tramitação no Congresso Nacional. O texto foi aprovado na Câmara dos Deputados em 6 de maio.

Entrevista // Paulo Cesar de Araújo

"Eu acho que se o Roberto ler esse livro, ele nao tem mais como brigar comigo. Mas, se ele não ler, vai ficar lá, resmungando"

O réu e o Rei é um livro do livro. Por que você decidiu lançá-lo?
Eu acho que é uma história bacana porque é a primeira vez que alguém tem a história do ídolo e a história dos fãs. Esse livro é a história de um menino vindo do interior (o próprio Paulo Cesar de Araújo) e de como esse fã recebia as músicas, os discos de Roberto Carlos. A gente não tem história de um fã de Elvis, um fã dos Beatles. O livro começa contando essa história, depois parte para a pesquisas, os bastidores, o processo movido contra mim.

Qual sua expectativa com relação ao livro?

A primeira coisa que penso é que espero que ele leia o livro. Da outra vez, ele abriu o processo sem ter lido. Eu conto os detalhes sobre ser acusado sem ele ter lido. Se ele não ler o livro, vai ser repetir tudo. É a chance dele de conhecer a história dos seus fãs, como as elites culturais recebiam Roberto, como a crítica recebia. É a minha história, que é a história de milhões. Ele poderia aprender muito sobre a história dele. Roberto não construiu a história dele sozinho. A história foi construída por uma multidão de brasileiros. Eu não aceito uma palavra de Roberto sem ele ler.

Acha que o livro vai gerar muita polêmica?
Não sei. Espero que seja bem recebido. É um livro para esclarecer. Não é um livro para brigar. É um livro necessário para esclarecer. Prefiro que seja entendido assim. É para trazer luz ao debate. Estamos em um estado democrático de direito, com uma constituição que garante a liberdade de expressão.

Além de pesquisador da obra dele, você é um fã;
Eu sou apenas mais um fã na multidão de brasileiros. E tive a oportunidade de escrever essa história. Essa história poderia ter sido nunca contada. É uma história a mais, de um ponto de vista singular, que é o meu, mas que representa uma multidão. Tem esse lado da história vinda de baixo para cima e depois a história do processo. Aí você tem detalhes, intrigas, tem tudo que um processo pode ter.

Roberto Carlos em detalhes foi lançado em 2006. De lá para cá, o que mudou na pesquisa e na sua forma de enxergar a história?
Eu procurei aperfeiçoar o trabalho. Estou aprendendo sempre. Certamente é um livro melhor nesse sentido. É um livro com quase mil notas. Tem todas as fontes, de cada frase, com exceção dos fatos que vivi. É um livro de memória e de pesquisa. Eu sou personagem e narrador. É uma história particular e uma história que é do Brasil. A imprensa é um personagem do livro, os jornalistas brasileiros. No índice onomástico, muitos jornalistas entraram no debate, que criticaram, apoiaram, comentaram, narraram, de Ratinho a Paulo Coelho, Zuenir Ventura, Ancelmo Góis.

Você espera fazer as pazes com Roberto Carlos depois desse lançamento?

Ah, espero. Eu acho que, se o Roberto ler esse livro, ele nao tem mais como brigar comigo. Vai depender da leitura. Mas, se ele não ler, vai ficar lá, resmungando. Se o Roberto se permitir ler esse livro, certamente faremos as pazes. Mas tudo vai depender desse gesto. Eu torço para isso. Se isso não acontecer, vai ser aquela tristeza, mas paciência. Vai ser aquele filme que já conhecemos. Isso é página virada. Acho até que o Roberto não vai fazer mais isso. Recentemente, ele deu uma entrevista dizendo que mudou a opinião, que só queria negociar os direitos de adaptação para o cinema, teatro, minissérie. Um artista que fez as músicas que ele fez não precisaria se preocupar com isso.

O que o lançamento de O réu e o Rei representa no momento atual, de discussão da possibilidade de lançamento de biografias sem o consetimento do biografado no Senado e na Câmara Federal?
Eu acho bacana porque vai ajudar a esclarecer. O que aconteceu comigo é a história de vários biógrafos do Brasil, que foram para audiências, foram processados. Esse livro mostra como isso funciona. Acho que vai ajudar a iluminar isso, a mostrar o absurdo da Justiça, dessas acusações. Estamos em um período de trevas. A coisa é mais simples do que parece. É uma questão de bom senso.

Como foi o processo de pesquisa para O réu e o Rei?
As entrevistas eu já tinha no meu arquivo. Tem várias que eu já fiz ao longo do tempo. Tem matérias, entrevistas que coletei. Tem Tom Jobim falando, João Gilbeto, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan. Tem o Procure Saber todo. Antes do Procure Saber, eu já procurava saber sobre todos eles. Uma grande parte eu vou usar em futuros. São cerca de 250 personagens da música brasileira. Dá para fazer pelo menos uns dois ou três livros.

Durante as discussões sobre biografias não autorizadas, no ano passado, Chico Buarque negou que tivesse dado entrevista para Roberto Carlos em detalhes e você mostrou fotos do encontro. Vocês chegaram a se falar depois do episódio?

Não. Nunca fui procurado por nenhum artista do Procure Saber ou do Roberto Carlos. Eu conto em detalhtes tudo que aconteceu, os bastidores de como eu recebi a acusação do Chico. Como eu fiquei, como me defendi. Tem uma análise sobre o Procure Saber. O livro vem o mais atualizado possível.

Você guarda algum ressentimento com relação ao Procure Saber?

Eu não tenho nenhum problema. Por isso que estou contando. Não tenho nenhum ressentimento. Eles são meu objeto de estudo. Não posso ficar brigando com meu objeto de estudo. Eles brigaram comigo. Eu não briguei com eles. Meu arquivo sobre Gilberto Gil, João Gilberto, Caetano, Chico continua atualizado.

Você pretende relançar Roberto Carlos em detalhes?
Quando a lei mudar realmente, eu vou lutar para relançar, certamente. E acho que vai ficar mais difícil para Roberto. Eu vou ter que entrar com uma ação para uma readequação à legislação. Tem todo um trâmite legal. Mas eu espero que o próprio Roberto compreenda a situação. Mudando a lei, Roberto Carlos vai ser o último censor do país. Além do título de Rei, que conseguiu com tanto trabalho e talento, vai ter esse. Se ele tiver um amigo, um conselheiro, alguém vai dizer para ele não insistir mais nisso. ;Volte a fazer canções, que o Brasil te ama por isso;. Mas eu preciso primeiro que mude a lei.