Cannes - O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que captou com sua câmera catástrofes humanitárias e ecológicas em todo o planeta, lança uma mensagem de otimismo para salvar a Terra em um belo filme de seu filho Juliano e do alemão Wim Wenders, que estreou nesta terça-feira em Cannes.
"Nunca estava lá, estava sempre viajando. Havia uma grande distância entre nós dois. Mas foi graças ao filme que finalmente consegui aceitá-lo e que conseguimos nos aproximar", disse Juliano em uma entrevista concedida à AFP em um café do Palácio dos Festivais, com vista para o Mediterrâneo.
[SAIBAMAIS]O documentário dá pistas para entender a transformação de Salgado como homem e como artista, que começou depois da sua chegada a Paris, há mais de 40 anos com sua esposa Lélia, para trabalhar como economista de um grande banco internacional e deixar para trás a ditadura militar.
Um dia, uma câmera chegou às mãos de Salgado, que tirou uma foto de Lélia na catedral de Notre Dame. E sua vida mudou para sempre. Em 1973, abandonou o emprego e se lançou em uma carreira como fotógrafo, que o levaria a percorrer o mundo e lhe daria fama e glória. Mas ele também pagou um preço alto, ao testemunhar o lado sombrio da humanidade.
O fotógrafo esteve no centro de alguns dos acontecimentos mais trágicos das últimas décadas, como o massacre em Ruanda, lembrou o filho. - "Um homem tímido", segundo o filho - Salgado não está em Cannes para a estreia de "O Sal da Terra", e sim em Cingapura, para a abertura de uma exposição sobre sua obra. "Sebastião é um homem muito tímido, com muito pudor", explicou Juliano, que começou filmando seu pai em uma viagem que fizeram juntos em 2009 à Amazônia, para "Gênesis", um dos grandes projetos do fotógrafo. Lá conviveram um mês com a tribo Zo;e, que ainda vive na era paleolítica.
"Quando voltamos, Sebastião viu as imagens e ficou muito comovido". E foi nesse momento que pai e filho decidiram fazer um filme juntos. Wim Wenders, o premiado diretor de "Paris, Texas", "Buena Vista Social Club", se juntou pouco depois ao projeto.
"Wim tinha muita vontade há vários anos de fazer um filme sobre Sebatião, e nós precisávamos de alguém que tivesse um olhar de fora, distanciado"
"E Wim, além de ser um mestre da imagem, podia entender o quão difícil pode ser uma relação entre pai e filho e respeitar a intimidade do rojeto", disse Juliano, que viveu durante um ano e meio em Berlim para trabalhar com Wenders na edição.Ele lembrou que Wenders, de 67 anos, ficou surpreso com a abundância de material mostrando a obra do brasileiro.
"Tínhamos 15.000 horas filmadas, que tiveram que ser reduzidas para uma hora e meia. Wim encontrou uma bela forma de uni-las e construir a narrativa", disse Juliano, autor de vários curtas-metragens e documentários para a televisão francesa. Ele disse estar "vivendo um sonho" ao estar em Cannes com este filme.
"O Sal da Terra" termina com uma nota de esperança: o retorno de Salgado e Lélia ao Brasil, onde criaram o Instituto Terra, que se tornou um grande projeto ecológico.
"Começou na fazenda da família. Estava tudo seco, e começamos todos a plantar árvores. E depois Sebastião e Lélia disseram: ;Vamos reflorestar a selva;. E já semearam mais de 2 milhões de árvores".
"Por isso era importante terminar o filme transmitindo esta mensagem positiva sobre a vontade e a possibilidade de mudar o mundo, esta boa energia", concluiu o jovem cineasta, que já está trabalhando em seu próximo filme, um thriller psicológico "sobre a luta pela ascensão social" no Brasil, que será rodado em São Paulo.