Através do retrato de uma família hollywoodiana rica, mas com angústias, inveja e à beira da implosão, Cronenberg disseca uma sociedade obcecada pelo dinheiro e por celebridades. Também desnuda as ambições desmedidas e o oportunismo que reinam em uma cidade repleta de predadores de todo tipo.
Mas o cineasta - que há dois anos exibiu em Cannes "Cosmopolis", também com Pattinson -, advertiu que o filme não é uma crítica à ;cidade dos sonhos;, na Califórnia. "Acontece o mesmo em Wall Street, no Silicon Valley, em todos os lugares onde existem pessoas desesperadamente ambiciosas", afirmou o diretor.
Baseada no romance de Bruce Wagner, que também escreveu o roteiro, o filme de Cronenberg - que venceu o Prêmio do Júri em 1996 com "Crash - Estranhos Prazeres" - não deixa de evocar a sátira ferina sobre Hollywood do americano Robert Altman, "O Jogador".
"Foxcatcher", uma história real
Em "Foxcatcher", o diretor americano Benett Miller vai além na exploração do impacto do dinheiro e da ambição, ao transportar o espectador para uma história verdadeira e trágica: a do herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo, John Du Pont.
Mas a história serve a Miller apenas como ponto de partida para construir um filme fascinante que, sem lições ou mensagens políticas, convida a uma reflexão sobre o poder do dinheiro na sociedade moderna. "Mais do que contar uma história, o que me interessava era fazer uma observação sobre o que está por baixo da história", explicou o diretor "Capote" e "Moneyball". O filme conta a história de um assassinato: filantropo e grande amante do esporte, John Du Pont (Steve Carell), que levado pelo desejo de ganhar o respeito da mãe (a grande atriz britânica Vanessa Redgrave), constrói um milionário centro de treinamento em "Foxcatcher", a magnífica propriedade da família, na região da Filadélfia.
Com a cabeça voltada para os Jogos Olímpicos de Seul-1988, o excêntrico bilionário convida para o local o campeão olímpico de luta livre Mark Schultz (Channing Tatum) e seu irmão Dave (Mark Ruffalo), também campeão olímpico e treinador. A história acaba com o assassinato de um dos irmãos por Du Pont, o que levou o herdeiro da família, que possui a maior indústria química do mundo, a terminar a vida na prisão.
O diretor e os atores contaram em Cannes que para fazer o filme mergulharam no mundo da luta livre por vários meses. Também realizaram um trabalho de "jornalismo investigativo". O filme foi uma "exploração, uma aventura", no qual "cada cena é apenas a ponta do iceberg", disse Miller, que pela primeira vez tem um filme na mostra oficial do principal festival de cinema do mundo.
Dezoito filmes disputam a Palma de Ouro. Ainda restam quatro dias de exibições, mas a crítica já aponta alguns favoritos, como "Timbuktu", sobre a guerra santa nesta cidade do Mali, e "Winter sleep", do turco Nuri Bilge Ceylan, um drama íntimo rodado no centro de Anatolia.