Engels Espíritos herdou o nome do teórico alemão Friedrich Engels e parece, também, estar bastante empenhado na questão da luta de classes. A dele, no caso, é a dos músicos. Gaitista profissional desde os anos 1980, o instrumentista brasiliense, nascido na Asa Norte e hoje com 41 anos, orgulha-se de conseguir viver exclusivamente de sua arte, mas lamenta que boa parte dos colegas não tenham a mesma sorte. Independente, Engels crítica a Ordem dos Músicos do Brasil e a falta de espaços e incentivo na capital federal. ;Somos uma classe subjugada, jogada ao limbo;, diz ele, criador de um festival de gaitistas e dono de uma escola onde leciona técnicas do instrumento. ;Quem vive de música ama a música e não tem como viver de outra maneira;.
Você mora em Brasília, mas está sempre viajando;
Brasília é uma cidade estratégica. Passo temporadas aqui. Viajo muito pelo país e também pelo exterior, de acordo com os shows que tenho para fazer. Volto para Brasília para compor, fazer apresentações e produzir meus discos. Sempre gravo aqui, onde há uma tecnologia de estúdio muito boa. Tem a mesma tecnologia de Los Angeles e tal. Prefiro a cidade porque todos os meus músicos estão aqui.
A capital do país tem hoje uma boa safra de gaitistas, e você foi pioneiro no instrumento por aqui, certo?
Comecei a estudar gaita nos anos 1980. Com muita dificuldade, porque tive que encomendar o instrumento de São Paulo e estudar sozinho, já que não existiam professores aqui. Não tinha gaita, material didático nem internet. Então, como eu já estudava canto lírico na Escola de Música de Brasília (EMB), tinha uma noção boa de música: tirava tudo de ouvido. Fiz uma pesquisa própria e isso foi muito bom, porque desenvolvi uma personalidade no instrumento. Mas demorei a descobrir algumas coisas. Por exemplo, o que hoje eu aprendo em algumas semanas, naquela época eu aprendi em cinco anos. Montei uma banda com clássicos do jazz e do rock. Montei o primeiro curso de gaita em Brasília. Trabalho com pioneirismo no instrumento, comecei a dar aulas e formei a primeira geração de gaitistas da cidade.
Hoje, nomes como Gabriel Grossi e Pablo Fagundes têm conseguido destaque nacional.
Gabriel estudou comigo e eu percebi que ele tinha uma tendência para o choro. Mandei ele ir para o Rio, porque lá há bons professores. Para mim, hoje, ele é um dos melhores gaitistas da cidade. Pablo fez aula com um amigo meu e é também um gaitista muito bom. O Caetano Rojas tem um trabalho com música celta. Tem o Cisso Cerqueira, também. Há uma galera fazendo um trabalho legal com a gaita.
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