Alcance universal
Segundo Szifrón, o filme não pretende pintar uma realidade particular da sociedade argentina, já que tem alcance universal. "Eu não limitaria o que o filme reflete à Argentina". A julgar pelos aplausos arrancados em Cannes, o filme passa o recado.
O diretor também destacou o efeito de catarse que o filme provoca. "Não é que eu acredite que o mundo está a ponto de explodir, nem nada do tipo", garante.
Szifrón, de 38 anos, que alterna as atividades de direção com a produção de roteiros e a literatura, disse ter muita fé de que o ser humano "possa evoluir até zonas desconhecidas".
"Nós somos muito involuídos com respeito a nosso potencial". E esta seria a mensagem que, segundo ele, "Relatos Salvajes" pretende passar, mesmo que por efeito de contraste. "Estamos destinados a viver muito melhor do que vivemos hoje".
O filme é a bandeirada do cinema argentino no Festival, onde entrou pela porta da frente do exclusivo clube dos 18 filmes que competem pela Palma de Ouro. A disputa conta com pesos-pesados do cinema mundial, de David Cronenberg a Mike Leigh, passando por Ken Loach e Jean-Luc Godard.
Mas a presença argentina na festa mundial da sétima arte, que ano após ano aposta num cinema de qualidade, não se limita a "Relatos Salvajes".
Em seleções paralelas, estreiam neste final de semana os filmes Jauja de Lisandro Alonso, com Viggo Mortensen, Refugiado de Diego Lerman e "El ardor" de Pablo Fendrik, protagonizado pelo mexicano Gael García Bernal.
Um dos filhos prediletos do Festival, o diretor argentino Pablo Trapero, Leonera (2008) e Carancho (2010), preside o júri da mostra Un Certain Regard.
A Argentina vem produzindo uma média de 150 filmes por ano desde 2010 e ostenta uma das populações mais altas de cineastas da América Latina e do mundo. Há cerca de 14.000 estudantes de cinema em todo o país, dos quais saem com o título universitário ou técnico entre 1.500 a 2.000 a cada ano.