Diversão e Arte

Minha relação com hip-hop, portanto, é de gratidão, diz rapper Sérgio Vaz

Em entrevista ao Correio, o "poeta de periferia" comenta sobre o apelido e o cenário do gênero musical no Brasil

postado em 13/05/2014 08:55
Sérgio Vaz, poeta da periferia
Nascido e criado na periferia de São Paulo, Sérgio Vaz faz literatura, mas se tornou presença frequente nos eventos de rap do país. Sobe no palco e declama a realidade da plateia, que passou a tê-lo como referência. Vaz carrega a favela na voz, nos livros e na poesia e se destacou como uma das principais figuras da cultura marginal. Por meio da escrita, a periferia chegou a lugares jamais pensados. ;No ano passado, passei pelo México e algumas cidades da Alemanha. Acabei de voltar de Buenos Aires e, logo, embarco para Roma. Às vezes, o povo cansa do Paulo Coelho;, brincou, durante a entrevista ao Correio.



[SAIBAMAIS]Vaz ficou consagrado não somente pelas palavras lancinantes, mas por uma rara sinceridade ao tratar das chagas sociais. O poeta prefere encará-las de frente: ;O morro ainda está nos anos 1970. A ditadura, por aqui, ainda não acabou;.

Confira entrevista com Sérgio Vaz

Na sua trajetória, quando o hip-hop toma um espaço definitivo e passa a te inspirar?

Estou, a vida inteira, na mesma periferia. Por aqui, ainda garoto, comecei a escutar música negra. Um tempo depois, eu me interessei pela música popular brasileira. em determinado momento, esse gênero perdeu o sentido para mim. Até eu ouvir o hip-hop. Aí, tudo mudou. Até então, eu nunca tinha ouvido alguém se referir ao meu bairro (o violento Parque Santo Antônio, em São Paulo). Escutei uma música do Racionais MC;s falando do local onde moro! E eu estava acostumado a ouvir sobre Ipanema, Copacabana, Leblon (cantarola O barquinho, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal). Sempre me incomodou essa p;. Quando vi os caras falando da favela, falei: ;Pô, é isso;.

Passa, então, a abordar a periferia em seus escritos?

Foi como se eu percebesse: ;Não estou sozinho, não;. Eu ficava esperando a tal da inspiração bater, para falar dos cosmos, da Via Láctea; E descubro que a motivação estava no dia a dia, na feira, nas ruas. Era o oprimido falando do oprimido. Nesse sentido, minha poesia ganhou força. Como vender livro não era viável, eu comecei a pedir para recitar poesia nos shows de rap, que aconteciam por ali. Quando vi, eu já era o ;poeta da periferia;. Minha relação com o hip-hop, portanto, é de gratidão.

O panorama da violência, do abandono, atingiu a sua caminhada?

Sou de uma casa simples. Mas nunca faltaram comida nem livros. Meu pai me apresentou a literatura. Mas vi muita gente morrer. Chacinas. Ao ponto de uma hora cansar: ;Não vou mais a enterros! Não aguento mais;. Eu cresci assim. Só me restou escrever sobre isso. Para me vingar do passado. Para não enlouquecer. Em vez de de mudarmos da periferia, resolvemos mudar a periferia.

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