Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Autores de países africanos apresentam ao mundo a nova face de seus países

Históricos de conflitos, guerras civis e lutas pela independência estão entre os temas

Se os resultados de uma guerra são nefastos, se a violência causa medo, dor e revolta, como a população entende que a arte pode nascer do caos? A literatura tem se mostrado arma de reconstrução de perfis e identidades de várias nações africanas imersas na desordem de conflitos, nas guerras civis e na busca pela consciência política, cultural e social. Antigas colônias revelaram grandes autores e obras marcadas pela história recente dessas nações. A realidade, em alguns casos, é tão misteriosa e surreal que os fatos se confundem com o produto da mente fértil do artista. Tudo, no fim, parece ficção.

Perguntas para Conceição Lima

Em Os heróis você apresenta a força política da sua poesia. Há uma motivação maior em tratar de memórias conflituosas em versos?

A minha poesia inscreve um certo olhar para a nação e também para a África, que passa pelo resgate e mineração de fatos e memórias traumáticas num processo que transcende os limites ideológicos. Esse processo íntimo, pessoal, é tecido ou destecido pela lírica e a linguagem é o seu cerne. Muitos dos poemas representam um confronto com memórias dolorosas, traumáticas, conflituosas. Porém, a motivação não é meramente fixá-las, mas sim expô-las reflexivamente e iluminar, por via da linguagem poética, trechos e momentos soterrados, os sujeitos marginalizados, os assassinados pela vida e pela história. Acredito que do fluxo dessas memórias conflituosas possa emanar e emergir uma certa esperança, tornando o poema habitante da nudez do sonho primordial, da inteireza da luz, do útero da casa.

O que significou a luta pela democracia e independência de São Tomé, sobretudo no que diz respeito à liberdade de expressão?


O golpe militar e a revolução do 25 de Abril em Portugal abriram caminho a uma explosão de vozes irmanadas no desejo de ;independência total e imediata;. Hoje, sabemos que a euforia da entoação do hino e do hastear da bandeira a 12 de julho de 1975 marcavam o início de uma nova e difícil caminhada. Desde que foi introduzido o multipartidarismo, em 1991, ninguém foi preso ou detido por delito de opinião e isso é muito importante. Já no que toca à manifestação do direito de imprensa, existem tentações. Uns governos inclinam-se a um maior fechamento dos órgãos estatais, outros são mais respeitadores do pluralismo. Eu própria fui vítima, em 2010, de um ato de censura, quando o meu programa de entrevista Em directo foi extinto por ordem do governo. Contudo, no cômputo geral, São Tomé e Príncipe é um caso raro de liberdade de expressão no continente africano. Hoje, a debilidade econômica do país dependente fundamentalmente de ajudas externas.

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