Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Bandas brasileiras apostam na recombinação de gêneros e batidas

As bandas Kalouv, Constantina e Hurtmold fazem releituras de sonoridades regionais pouco exploradas; confira


Fugir de rótulos e gêneros preestabelecidos reduz a um denominador comum três bandas brasileiras distintas: os paulistanos da Hurtmold, os pernambucanos da Kalouv e os mineiros da Constantina. Trabalhando com recombinações de estilos na construção de paisagens musicais, elas fazem releituras de sonoridades regionais pouco exploradas, que nascem e crescem no espectro da cultura local. Fundindo esses elementos com princípios da música contemporânea, os artistas descortinam uma nova seara na criação musical, tendo como bandeira a multiplicidade, a liberdade criativa e o descompromisso com categorias. O resultado pode ser conferido nos trabalhos mais recentes dos grupos.

Hurtmold

[VIDEO1]

Um dos responsáveis pelo aparecimento e desenvolvimento da nova geração experimental na música brasileira, o Hurtmold foi criado em 1998, em São Paulo. O sexteto combina elementos do jazz, do funk americano e do punk rock com ritmos brasileiros, deslizando suas composições sobre longas incursões instrumentais. Embora tenha origem no punk rock, o grupo rechaça as classificações da indústria fonográfica. ;O som pode ser chamado de qualquer coisa e as pessoas podem dizer com o que parece e qual seria o nome apropriado para isso;, afirma o guitarrista Fernando Cappi.

O álbum Mils Crianças revela uma banda em grande forma. O disco tem como linha condutora o uso da percussão em suas várias possibilidades.

Em torno dessa linha, os demais instrumentos vão acrescentando elementos novos e dialogando através de sons precisamente encaixados, em que se percebe a preocupação maior com o desenho cuidadoso do conjunto do que com o voo individual da improvisação.

Kalouv

[VIDEO2]

Na mesma toada experimentalista, a Kalouv explora ambientes musicais inusitados na cidade do Recife. Se na origem os pernambucanos tinham forte influência do pós-rock (termo cunhado no início dos anos 1990, que procurava abarcar a nova onda de bandas que traziam em primeiro plano os climas, timbres e texturas em detrimento dos riffs e melodias pegajosas), este deixa de dar o tom em Pluvero, lançado no fim de março. ;Como nos antigos long plays, antes da era virtual, Pluvero foi concebido para ser escutado do começo ao fim. É a continuidade que confere sentido ao álbum;, enfatiza o guitarrista Túlio Albuquerque.

O trabalho revela uma banda jovem, em transformação, e que procura, acima de tudo, descobrir os próprios caminhos ao abrir mão de estrangeirismos. ;Com o tempo, fomos percebendo que, por estarmos no Recife e termos várias outras conexões, seria impossível apenas reproduzir o que era feito lá fora;, comenta Albuquerque.

Constantina

[VIDEO3]

Os mineiros da Constantina optaram pelo minimalismo e a economia na composição de Pelicano, trabalho que chegou ao mercado no mês passado. A mais recente criação do grupo de Belo Horizonte, com mais de 10 anos de experiência, encontra na serenidade o ponto de sustento para grande parte das composições. ;Foi no limiar entre o silêncio e o ruído que Pelicano nasceu;, reflete o multi-intrumentista Daniel Nunes. Divididas em quatro atos extensos ; Pelicano, Escafandro, Puerto Vallarta e Salva Vidas ;, as faixas são orquestradas, ao mesmo tempo, com firmeza e leveza propositais.

Tendo no mar e no infinito particular desse cenário o combustível natural para a formação do disco, cada música segue em busca de uma solução aquática, mutável e sempre aventureira aos ouvidos do público. São mais de 40 minutos em que guitarras atmosféricas, sintetizadores e encaixes precisos de bateria se acomodam em uma transformação homogênea.