Em debate sobre biografias e identidades culturais, o mexericos Ruy Castro falou sobre a proibição da escrever biografias no Brasil sem a autorização da família do biografado. Em mesa sobre o tema na II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, Castro teve a companhia de José Paulo Cavalcanti Filho, autor de biografia sobre Fernando Pessoa, e Toninho Vaz, que teve sua biografia sobre Leminski impedida de circular.
Castro contou o episódio de censura de sua biografia de Garrincha, Estrela solitária, que foi proibido de circular pela família do jogador. Ele levou três anos para escrever a biografia e entrevistou todas as filhas de Garrincha, que concordaram com a biografia, mas resolveram processar o escritor quando Estrela solitária foi lançada.
Castro contou que elas disseram à editora que estavam dispostas a fazer um acordo: permitiriam a publicação se a editora pagasse R$ 1 milhão. "Estrela solitária inaugurou todo esse triste ciclo", disse Castro. "Querem cercear a liberdade de expressão em defesa da honra de uma personalidade, mas tem interesse escuso por trás. Se você pagar, pode caluniar, mentir. Na situação atual, o único biografado possível é o solteiro, filho único e estéril, para não ter problema de herdeiro."
Toninho Vaz também lembrou que sua biografia de Leminski foi impedido de circular quando já estava na quarta edição. "O texto é o mesmo. Elas (a família) querem dinheiro, o que é uma traição à memória do Leminski, que foi um cara que nunca buscou esse valor pecuniário."