Considerada um dos nomes mais importantes da poesia africana contemporânea, Conceição Lima insere memórias e a história de São Tomé e Príncipe à literatura. Dona de um estilo intimista, ela busca imprimir a voz coletiva nos versos que constrói nos livros O Útero da casa, A dolorosa raiz do micondó e O país de Akendenguê. ;Confesso que não me sinto muito confortável em falar da minha própria poesia. Atrevo-me a descrevê-la, de forma muito sintética, como uma poesia intimista, lírica, amiúde de contaminação épica, marcada por fluxos da história e na qual a voz do eu-lírico, não raras vezes, se confunde com a voz coletiva;, diz. Para ela, o amálgama entre as identidades do país e das poesias que escreve é movimentado pela germinação de sentidos entre os níveis individual e coletivo: ;Há, na minha poesia ou em parte significativa dela, o entrelaçamento entre a narrativa pessoal, íntima, individual e aquilo a que se poderá chamar de narrativa da nação.;
Biógrafo de Fernando Pessoa conta como foi contato com familiares do poeta
Durante a pesquisa, o biógrafo chegou a 127 heterônimos, mas confessa que os mais importantes eram quatro: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Alvaro de Campos e Bernardo Soares ; além de um destaque especial para para Alexander Search, António Mora, Barão de Teive. ;Todos eram Pessoa e o que estava a sua volta. Álvaro de Campos, por exemplo, era de ;Campos; por conta de um sósia de Pessoa, Ernesto Campos. Nasceu em Tavira, terra do avô paterno de Pessoa. No dia de nascimento de Virgilio e Kant, duas de suas admirações literárias. Vivia na casa de duas tias velhas, com quem Pessoa vivia. Era engenheiro naval, como o marido da filha de sua tia Anica, que morava num quarto pegado ao dele. Visitou Stratford on Avon, onde era cônsul Eça de Queiroz. Viajou pelo Mediterrâneo ( em " Opiário " ) , como Pessoa havia viajado. Mas, diferentemente dele, que vai até Lisboa, desembarca em Marselha. Como Rimbaud. Nada nele era por acaso.;
Autorização para biografias
Calavcanti não precisou de autorização prévia para publicar a biografia de Fernando Pessoa e conta que o contato com a família do poeta foi amistosa. Ele é contra a exigência de autorização para a publicação de obras biográficas. ;O debate, no Brasil, está simplificado. No primeiro mundo, pode. Aqui não deve ser diferente. Ocorre que, por lá, a indenização pode ir longe. 5 milhões de dólares, no case Leonard Ross x New York Times. 34 milhões de dólares, no case Richard Sprague x Philadelphia Inquirer. 232,4 milhões de dólares, Houston Money Managment x Wall Street Journal. Só que, por aqui, indenizações assim são consideradas censuras. Devemos fazer um debate mais informado e amplo.;
Três perguntas para José Paulo Cavalcanti
O que mudou em sua percepção sobre Fernando Pessoa após a pesquisa?
A dimensão do escritor. No início, de alguma forma, pensei que era um bom escritor, como tantos. No fim, vi que era algo muito especial. Na minha opinião, o maior vulto da literatura portuguesa.
Como foi seu contato com os familiares?
Muito bom. Cordialíssimo. Com certas concessões, claro. Por exemplo disse que o avô dos sobrinhos de Pessoa era sapateiro. Era mesmo, apesar de ter irmão rico. Por conta da Lei do Morgadio, que garante a totalidade da herança apenas ao filho mais velho. A família disse que ficou incomodada. Falei sobre as diferenças, com o Brasil. Aqui seria honra, um pai sapateiro ter filhos formados em universidades. Lá, não. Perguntei se poderia trocar sapateiro por " profissão modesta " . Eles aceitaram, com enorme satisfação. E colaboraram muito, depois disso.
Acha que o mercado editorial do Brasil está se consolidando no que diz respeito à literatura?
Sim. Sem dúvida. Mas continuo entendendo que não há nada mais moderno, revolucionário, democrático e transformador, para o país, que educação popular. Só um povo educado por exercer, em todos os seus limites, a cidadania.
II Bienal Brasil do Livro e da Leitura
Debate: As múltiplas faces de Fernando Pessoa. Hoje, às 11h.
2; Bienal Brasil do Livro e da Leitura ; Esplanada dos Ministérios.
Debate: Biografias: literatura, história e identidade cultural.
Segunda-feira, às 19h. 2; Bienal Brasil do Livro e da Leitura ; Esplanada dos Ministérios. Serão distribuídas senhas na entrada dos auditórios para as palestras, debates e seminários. Classificação Indicativa Livre
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