Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Bienal do Livro: escritores debatem influência das novas tecnologias

'Se a pessoa tem talento ela rapidamente é reconhecida, mas a tecnologia não faz com que os escritores de hoje sejam melhores do que os de 50 anos atrás', afirmou o escritor e jornalista Michel Laub



Verônica, por sua vez, entende que há, atualmente, um maior interesse do mercado editorial por novos escritores. Já Luisa acredita que uma maior abertura das editoras para novos nomes não muda a recepção do público. ;Por mais que se publique, a recepção não é diferente. Mas isso já é bom, porque motiva o novo escritor, mesmo que seja um livro com baixa receptividade. A publicação não garante nada, mas já é um bom começo;, disse a jovem escritora, ganhadora de dois prêmios Sesc de Literatura, em 2010 e 2011.

A influência de novos formatos, como e-books (livros digitais, comprados e lidos na tela de tablets ou formatos semelhantes) preocupa José Rezende, mediador do debate. Embora goste das novas possibilidades de acesso à literatura, ele teme que trilhas sonoras ou pequenos filmes sejam usados no meio dos textos. Luisa e Verônica, no entanto, não acreditam que essa possibilidade de interatividade possa ser algo prejudicial. ;Acho que o nosso limite é sempre forçar questionamentos sobre algo ser ou não literatura. Às vezes pode ser diferente, mas nem por isso, deixaria de ser uma experiência literária;, disse Verônica.

Para Laub, cada tipo de escritor e história tem seu público cativo, e ele não teme o desaparecimento de um formato em favor de outro. Ele explica que todas as histórias tem seu nicho de leitores, sejam best sellers de fantasia ou um texto que questione a própria literatura. ;Todos são escritores com seu público. Tudo isso convive de uma forma muito saudável e o que vai determinar se ele é bom ou não é o que está dentro dele, e não a plataforma que ele vai usar;.

Seu penúltimo livro, Diário da Queda (Companhia das Letras, 2011), teve os direitos vendidos para onze países. O que você acha disso?

É muito interessante, porque é um autor completamente diferente, que está alheio as questões sociais do Brasil, que não é influenciado pela crítica que se escreve sobre mim, que ignora o mercado editorial brasileiro e tem mais chance de fazer uma leitura que não seja viciada. O leitor estrangeiro vai julgar pelo que esta escrito, tudo que ele tem é o livro na mão. Ao mesmo tempo, não é o mesmo livro que eu escrevi por conta da tradução.

Você começou a escrever antes do boom da internet. É mais fácil ser escritor hoje?


As dificuldades para escrever continuam sendo as mesmas, porque tem a ver mais com o talento do escritor, em como ele vai lidar com as questões sociais em que ele vive.

Existe uma crítica corrente de que a ficção brasileira não condiz com a realidade social do país, representando apenas uma classe e um gênero?

Existe essa crítica da classe média, mas eu acho que a crítica as vezes se esquece que o escritor tem a liberdade de escrever sobre o que quiser. Não acho que ninguém sente para escrever e pense, ah vou falar sobre isso porque ninguém até agora falou. O escritor escreve sobre o que ele quiser, sobre o que incomoda.