Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Filme que conta trajetória do documentarista Silvio Tendler estreia no Rio

O filme é uma cinebiografia de um dos mais importantes documentaristas brasileiros; exibição faz parte do calendário de eventos da UFRJ por ocasião dos 50 anos do golpe de 64

Prédio que foi palco de vários eventos marcantes da vida política brasileira durante a transição do regime militar para a democracia, o atual Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi o local escolhido para a estreia nesta segunda-feira (31/3) do documentário A Arte do Renascimento, de Noilton Nunes. O filme é uma cinebiografia de Silvio Tendler, um dos mais importantes documentaristas brasileiros. A exibição, com entrada franca, faz parte do calendário de eventos da UFRJ por ocasião dos 50 anos do golpe de 64.

Com 31 filmes feitos, entre curtas, médias e longa-metragens, Silvio Tendler tem no seu currículo obras que documentam a trajetória política do país antes e durante a ditadura militar, como Os Anos JK (1980), Jango (1984), Marighella ; Retrato Falado do Guerrilheiro (2001) e Tancredo, a Travessia (2011). Também é autor de O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981), o documentário de maior bilheteria da história do cinema brasileiro, assistido por 1,8 milhão de espectadores.

Em 2011, Tendler sofreu uma grave doença que o deixou tetraplégico. Após delicada operação na medula, ele foi aos poucos recuperando as forças e a vontade de viver e de criar. A Arte do Renascimento registra esse momento da vida do cineasta.



;Durante quase um ano, ele ficou paralisado, sem poder se mexer. Nas visitas que fiz a ele, fui percebendo a sua dimensão como ser humano e, ao mesmo tempo, o que representa o seu trabalho. E senti a necessidade de documentá-lo. Quando ele começou a se mexer, eu estava perto e gravei os primeiros passos dele;, conta o diretor Noilton Nunes. Também roteirista, produtor e professor de cinema, Noilton conhece Tendler desde os anos 70, quando ambos faziam parte da geração de cineclubistas.

O filme, que teve uma pré-estreia em novembro do ano passado, no encerramento do Festival de Cinema de Arquivo (Recine), no Arquivo Nacional, ficou pronto em junho de 2013, no momento em que o país era sacudido por grandes manifestações populares. ;Eu percebi que o percurso do Tendler como documentarista e os trechos de sua obra selecionados para o meu filme ajudam a explicar ao espectador porque aconteceram as recentes manifestações;, diz Noilton.

Localizada na Avenida Rui Barbosa, 762, no bairro do Flamengo, zona sul do Rio, a atual sede do CBAE abrigou de 1973 a 1995 a Casa do Estudante Universitário. No final da década de 70, quando teve início o processo de abertura do regime militar, lá se reuniam partidos políticos ainda confinados à ilegalidade, movimentos sociais e o Comitê Brasileiro pela Anistia. O prédio foi construído em 1922, quando o Rio sediou a Exposição do Centenário da Independência, para ser um hotel, e depois foi ocupado pela Escola de Enfermagem da UFRJ.