Em 1968, o compositor e maestro Jorge Antunes trabalhava no prédio do Instituto Villa-Lobos (IVL), no Rio de Janeiro, quando escutou um estrondo. O som vinha da porta e era produzido por milhares de estudantes que queriam invadir o prédio que funcionava como a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE). ;Ficamos apavorados e só pensei em tirar o que poderia ter de mais valioso no local;, lembra. Os escolhidos foram um gravador Revox, oito fitas magnéticas de papel em carretéis de ferro e uma bobina de fio de aço que, além dos áudios de reuniões, contêm duas gravações perdidas de Villa-Lobos: Fantasia e Mazurk. Depois de quase 50 anos, esse material será restaurado, graças a auxílio recebido de uma associação americana.
Jorge Antunes lembra que, durante o tumulto em frente ao Instituto, ele precisou tomar uma atitude rápida. ;Os estudantes gritavam a UNE é nossa;. Com medo de que os materiais fossem queimados, ele fugiu do prédio pela parte de trás levando as fitas e o gravador. ;Imagina eu pulando o muro com um gravador enorme?;, brinca. Era um domingo, e ele e um aluno estavam no instituto trabalhando na obra de sua autoria Missa Populorum Progresso quando a manifestação começou. No dia seguinte, eles descobriram que os estudantes não tinham conseguido invadir o prédio e levaram o gravador de volta para o Instituto, mas não as fitas. ;Elas ficaram guardadas em minha casa;, afirma Jorge Antunes. Seis meses depois, com a promulgação do AI-5, o professor foi demitido e rumou para o exílio durante quatro anos.
Projeto
Durante esse período, o material ficou em caixas na casa dos pais de Jorge. ;Mas eu sempre pensei em restaurar;. Quando retornou ao Brasil, ele trouxe para Brasília as fitas e a bobina, que continuaram guardadas. No início do ano 2000, essa vontade de descobrir o que, exatamente, as gravações continham se tornou ainda maior. Durante os últimos anos, o maestro buscou, sem sucesso, incentivos dentro do país para realizar a restauração. ;Eu tentei algumas vezes apresentar meu projeto à Petrobras Cultural e ao Fundo de Apoio à Cultura do DF, mas ele não foi aprovado;, lembra. Sem conseguir o apoio no Brasil, Jorge Antunes foi buscar nos Estados Unidos o patrocínio. ;Recentemente, eu soube da existência da ARSC (Association for Recorded Sound Collections) e decidi enviar meu projeto;, explica.
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