Rio de Janeiro ; ;Há 100 anos, o berço da modernidade foi Berlim, Paris e Moscou; e, a partir do fim do século 20, Nova York. Acredito que, agora, a modernidade do século 21 vai surgir nas grandes megalópoles, cidades com mais de 10 milhões de habitantes, de China, Brasil, Índia e África do Sul;. Essa é a explicação do alemão Alfons Hug para a mostra Brics, organizada por ele e por Alberto Saraiva, que está sendo apresentada até 20 de abril no Oi Futuro/Flamengo, Rio de Janeiro. A mostra reúne vídeos e fotos de artistas que vivem nos países do Brics. Entre eles os brasileiros Silvino Santos, Juliana Stein, Romy Pocztaruk, Alberto César Araújo, Raimundo Valentim, Lula Sampaio, Silvino Santos, Paulo Nazareth e Cao Guimarães ; os dois últimos, mineiros.
São obras que, por vários caminhos, trabalham motivos que aludem as relações entre desenvolvimento industrial, econômico e o impacto do processo sobre a vida das cidades e das populações. Tocando em vários temas ; desde imigrações até a reconstrução da imagem das nações, passando por visões, realistas ou alegóricas, da vida urbana. E, para Alfons Hug, o drama urbano extremo, a luta pela sobrevivência, vai marcando a modernidade do século 21. ;A maioria das obras tem um pouco do milagre econômico e muito da luta pela sobrevivência e até da precariedade dessas metrópoles;, observa o curador, que tem na questão metropolitana tema de interesse recorrente.
O curador Alberto Saraiva, que organizou a mostra junto com Hug, explica que os artistas que estão participando são autores cuja obra vem sendo reconhecida em exposições em várias partes do mundo. A mostra consumiu dois anos de pesquisa, que levou também à visita de várias exposições e bienais, e priorizou criadores que detalham questões ligadas ao desenvolvimento. ;É um olhar crítico sobre a realidade e todos pontuam a precariedade da paisagem urbana, questão sentida por quem vive na cidade e sofre, mais diretamente, os impactos da transformação econômica. O que se vê é uma pasteurização global, especialmente nos dramas;, observa.
A opção pela fotografia e o vídeo, como conta Alfons Hug, tem explicação. ;São setores em que se vive, hoje, momento muito produtivo em quase todos os países, inclusive emergentes e em locais como a Índia, com pouca tradição em pintura. Depois, vem a logística para a mostra de vídeos e fotos; como não envolve transporte, é mais econômico de organizar;. A exposição teve como cocuradores Sarat Maharaj, Gao Shiming, Joseph Backstein e Bose Krishnamachari.
Para Juliana Stein, artista gaúcha que vive e trabalha em Curitiba, a importância da mostra é estimular o pensamento crítico, a reflexão sobre o momento vivido por todos, onipresente, mas que permanece invisível. Ela valoriza o fato de a exposição reunir artistas de vários países e o conjunto de trabalhos, por permitir criar outra narrativa. Para a também gaúcha Romy Pocztaruk, está nas obras processo fascinante e assustador, já que põem em relevo tanto novas possibilidades trazidas pelo desenvolvimento econômico como a manipulação por meio de estratégias de marketing.
BRICS
Coletiva de vídeo e fotografia de artistas de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Obras de Silvino Santos, Juliana Stein, Romy Pocztaruk, Paulo Nazareth, Cao Guimarães, Alberto César Araújo, Raimundo Valentim, Silvino Santos e Lula Sampaio (Brasil); IpYuk-Yiu, Chen Chieh-Jen, CaoFei, Yang Fudong, e Gao Shiqiang (China); Haim Sokol, Elena Kovylina e Roman Mokrov (Rússia); Vivek Vilasini, Sarnath Banerjee e Navin Rawanchaikul (Índia); Donna Kukama e Mikhael Subotzky (África do Sul). Oi Futuro, Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo, níveis 2, 4 e 5. Informações: (21) 3131-3060. Aberta de terça a domingo, das 11h às 20h. Até 20 de abril.
* O repórter viajou a convite do Oi Futuro.
Três perguntas para...
lfons Hug
curador
Como o senhor vê a arte feita nos países que integram o Brics?
Toda arte contemporânea está interligada. Cada região, sobretudo Ásia, Índia e China, tem características muito próprias. Mas não é algo intransponível. A arte contemporânea no seu melhor momento é uma língua franca, que se entende a todos os países.
O que se vê é arte universal?
Cada país e cada continente tem uma matriz cultural que estará presente na arte contemporânea que ele faz. É como no cinema, cada país tem uma linguagem e elementos próprios. Não devemos procurar uma arte universal, mas é bom que haja pontos de contato e entendimento. Um vídeo chinês, embora seja cultura distante do Brasil, é legível para nós.
Que relações o senhor vê entre desenvolvimento econômico e arte nesses países?
O desenvolvimento econômico tem certas vantagens para a cultura. A infraestrutura cultural ficou melhor. A China está, neste momento, construindo mil museus, nem todos de arte moderna, mas históricos, de ciências etc. O mesmo ocorre em outra escala no Brasil, na Rússia e na Índia. O auge econômico trouxe certa pujança, recursos para o cinema, as artes visuais, o teatro, para tudo. Várias bienais de arte foram criadas nos últimos 10 anos nos países BRICS ; as de Moscou, de Xangai e da Índia, por exemplo.