O filme é uma continuação do megasucesso O âncora ; A lenda de Ron Burgundy, filme capaz de revelar para o mundo o potencial não apenas de Ferrell, mas também de colegas, à época nem tão conhecidos, entre os quais Steve Carell e Paul Rudd. Sem papas na língua e avesso ao pretenso controle de qualidade sinalizado pela crítica, em entrevista exclusiva ao Correio, ele demarca seus compromissos mais imediatos: quer mesmo é ser feliz e subverter as expectativas quanto à própria imagem. Em termos de armas para o humor, não descarta nem tópicos polêmicos e, menos ainda, escatologia.
Seu pai, Lee Ferrell (tecladista e saxofonista do The Righteous Brothers), exerceu influência, ainda que distante, na cena do jazz de Tudo por um furo?
Não. Aquilo foi apenas uma ideia idiota. Refiro-me a isso de Ron tocar flauta de jazz. Cresci cercado de muita música. Contribui de leve na escolha das músicas que estão no filme. Adam (McKay, o diretor), na verdade, é ótimo na escolha do repertório e nos elementos musicais. Ele é muito assertivo nas escolhas para delinear cada personagem. Às vezes, me arrisco a mandar e-mails de sugestões e, eventualmente, ele acata.
Muitos ensaios para a sua cena do inarrável abraço com David Koechner, em Tudo por um furo?
Nada, o cara é muito espontâneo e versado para aquilo (risos). Ele tem um abraço muito gostoso. Tudo caiu muito naturalmente (risos).
Com personagens tão extrovertidos, em algum momento, pelas atitudes deles, você já enfrentou desconforto ou constrangimento, ao rever alguma cena?
Claro que há momentos em que, revendo cenas, digo para mim mesmo: ;Não tenho crença na minha verdade, naquele momento x da cena. Ou: ;Eu poderia ter feito melhor. Mas, na maioria das vezes, reclino vejo e me percebo, em cena, de forma bastante satisfatória. Não, nunca, passo por vergonha ou tenho a sensação do tipo "eu poderia ter agarrado melhor a oportunidade X ou Y, se fizesse de maneira diferente."
O que você me diz do modismo da comédia stand-up, uma febre que nunca te apanhou. Aliás, falando em stand-up, vem a mente Woody Allen, em inicio de carreira. Você teve ele como inspiração, no novo filme? Já que tem Nova York, anos 1980, um cara cego e reviravoltas psicológicas; Você está mais pomposo e cheio de classe?
(Risos) Sim, acho que sim. Melhor, seguramente, estou ficando estiloso (risos). Quanto ao stand-up, cheguei a tentar fazê-lo, mas percebi o quanto ele resulta numa difícil, dura e solitária existência. Me encontrei, de verdade, nos esquetes e nos trabalhos teatrais de grupo. E, sim, estou muito satisfeito que você tenha notado este meu modo à la Woody Allen (risos).
Quanto à escatologia, como você a relaciona com o humor?
São tópicos que podem, inequivocamente, trazer riso. Ou, ao contrário. Creio que tendo a evitar este elemento, por encará-lo como um caminho fácil. Sei também que há pessoas que tendem a depreciar este tipo de riso ; mas, de um jeito esquisito, creio que existe uma maneira de testar este caminho, e recorrer à escatologia de modo esperto e inteligente (risos). Ainda assim evito. Mas, dentro de um contexto, pode sim, ser algo engraçado.
Assista ao trailer de ;Tudo por um furo;
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