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;Para mim é muito fácil, tranquilo;, diz a respeito do processo por meio do qual o repertório inédito chega até ele. ;Se não me enviam, vou atrás na internet;, afirma Ney, cujo novo repertório é calcado na chamada cena indie, em que se destacam as bandas Zabomba (SP) e Tono (RJ), além de Criolo (Freguês da meia-noite), Dan Akagawa (Todo mundo o tempo todo), Jerry e Alzira Espíndola (Beijos de imã) e o já citado Vitor Pirralho. Considerado por muitos um compositor (ainda) maldito, Itamar Assumpção (1949-2003) comparece com o rock Noite torta e Isso não vai ficar assim, que o cantor classifica de uma obra-prima. ;Gravo Itamar desde 1983. Tudo dele é interessante, uma sacada de letra, uma ideia. Os arranjos é que são muito datados, mas, se não se prender a isto, descobrem-se pérolas maravilhosas;, elogia Ney Matogrosso, que resgata também o samba Roendo as unhas, de Paulinho da Viola. Os arranjos são os mesmos do show, mas em estúdio, sob a direção musical do mesmo Sacha Amback, ele trabalhou com muita liberdade, com direito inclusive ao uso de elementos eletrônicos que agora está levando para o palco.
Vitor Ramil (A ilusão da casa), Dani Black (Oração, da qual saiu o título do trabalho), Beto Boing e Paulo Passos (Pronomes) e Rafael Rocha (Não consigo e Samba do blackberry, esta da parceria com Alberto) fecham o repertório do disco, que vai render ainda dois shows este mês. Em janeiro, Ney retoma a turnê no Rio, na expectativa de voltar a se apresentar em todas as capitais pelas quais já passou, incluindo Belo Horizonte.
Um trio de dois
Adepto da publicação de biografias, que tanta polêmica gerou nos últimos tempos, depois de Ney Matogrosso: ousar ser, de Bené Fonteles (textos) e Luiz Fernando Fonseca (fotos), o cantor volta a ser personagem de fotobiografia, desta vez assinada pelo ex-companheiro de Secos & Molhados Gerson Conrad. Trata-se de Meteórico fenômeno ; Memórias de um ex-Secos & Molhados, na qual o autor transformou o trio em duo, diante da negativa de João Ricardo, o terceiro integrante da banda e detentor da marca, em participar do livro, sequer em fotografias. ;Não entendi, já que o livro não tem nenhuma ofensa ao João. Tudo isto é muito chato, gasta energia à toa;, diz Ney, que não pretende publicar algo do gênero. ;Tenho vontade de fazer um levantamento das entrevistas que fiz, organizá-las cronologicamente e reunir tudo em um livro, para ver se o pensamento é coerente;, diz o cantor.
;Totalmente a favor da liberdade de expressão;, Gerson Conrad diz que sua postura frente à polêmica é de que sempre existirá um caminho ético. ;Sempre tive plena convicção de que, sem a formação mágica, os Secos & Molhados não significam absolutamente nada;, garante. Para Gerson, o que João Ricardo vem fazendo nos últimos anos é matar o mito. ;Basta ver as tentativas dele em trazer o grupo de volta com cantores que imitam a voz de Ney Matogrosso. É patético;, critica. Gerson Conrad gravou recentemente uma versão de autor para Rosa de Hiroshima, do poema de Vinicius de Moraes, que ele musicou, além da inédita Direto recado. Esta canção tem tudo a ver com a negativa de João Ricardo em autorizar a edição de fotos suas no livro Meteórico fenômeno. A publicação está sendo vendida (R$ 56) no site www.livrariadaana.com.br.
Rádio
Atento aos sinais é um disco tão radiofônico que Ney Matogrosso diz ter pedido à produção que o encaminhasse a todas as emissoras do país. ;Ele tem muitas chances de tocar;, aposta o cantor, destacando o potencial de faixas como Rua da passagem, de Lenine e Arnaldo Antunes, e Roendo as unhas, de Paulinho da Viola. Freguês da meia-noite, de Criolo, já é um sucesso entre seu público, assim como Não consigo, de Rafael Rocha, da banda Tono. ;Tem para todo gosto;, garante o cantor.
Cazuza
Amigo pessoal de Cazuza (1958-1990), com quem manteve um romance, Ney Matogrosso levantou por algum tempo a hipótese de dedicar um disco ao repertório inédito do artista. ;Acabei ficando só com três das quais gostava, gravando-as com os autores;, revela o intérprete. Com George Israel ele registrou a inédita Quatro letras. Já Seda, ele bem que tentou, mas acabou desistindo de incluir no repertório de Inclassificáveis, por causa do arranjo, que não o satisfez.
Cinema
Presença cada vez mais marcante nas telas, o cantor, que protagonizou o filme Luz nas trevas, de Helena Ignez e Ícarro Martins, também fez participação em Primeiro dia de um ano qualquer, de Domingos de Oliveira, além do média-metragem Poder dos afetos, também de Helena Ignez. Joel Pizzini dirigiu o curta-documentário Olho nu sobre o cantor. O que fãs não conseguem entender é a ausência de Ney (como personagem) na cinebiografia Cazuza ; O tempo não pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho.