Nahima Maciel
postado em 18/11/2013 08:15
Os contos de Alice Munro não são feitos de metáforas ; e elas são quase inexistentes na escrita da canadense ; mas uma ideia é bem pertinente para descrever a maior habilidade da vencedora do Nobel de Literatura. Ao leitor, é oferecida uma janela, uma pequena entrada na vida de um personagem, um momento no qual se pode espiar um trecho ; dramático, na maioria das vezes, é verdade ; de uma existência. É como se Munro tomasse o leitor pelas mãos e entrasse, subitamente, pela janela do trem da vida de seus personagens. Com a mão sempre firme, ela oferece um rápido passeio pelo corredor, uma olhadela nas cabines, para em seguida, em alta velocidade, catapultar o leitor para fora do vagão.
[SAIBAMAIS]Dear life, uma coletânea de 15 contos que Munro jurou ser a última, é uma despedida meio capenga. Em recente entrevista, logo após receber o Nobel, a escritora revelou que continua pensando em novas histórias e, por isso, não está mais tão certa assim de sua aposentadoria. Combinado com o prêmio, o anúncio levou Dear life ao topo das listas de mais vendidos, deixando para trás títulos como Cinquenta tons de cinza , de E. L. James, e Morte súbita, J. K. Rowling. O décimo quarto livro da autora tem também uma história assumidamente biográfica e reúne uma coleção de narrativas que retomam um velho hábito de Munro: pescar na província de Ontário, especialmente no campo e cidades pequenas, os personagens, cenas e paisagens descritos nos contos.
Simplicidade
Após ler três ou quatro contos, o leitor descobre que a tensão de Munro não carrega nenhum obviedade, embora seja onipresente inevitável. A tragédia que acomete a vida dos personagens resulta simplesmente da condição humana dos protagonistas, habitantes de um interior de aparência pacata, prisioneiros de um tempo nem sempre explícito. As histórias datam, seguramente, de um período posterior à Segunda Guerra, mas não estacionam no passado. Há muito do presente em alguns contos.
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