No segundo semestre do ano passado, Hamilton inscreveu o projeto Mundo de Pixinguinha e, ao ser informado sobre a aprovação, inicialmente, definiu os temas que cada convidado interpretaria com ele. Enviou a todos a partitura original, para que estudassem e, posteriormente, oferecessem a contribuição.
Logo em seguida, na Europa, deu início às gravações. ;O primeiro a gravar foi o pianista cubano Chucho Valdés, que conheci na França e com quem toquei, tempos depois, em São Paulo. Ele, há alguns anos, vive em Malaga, na Espanha, onde, em duo, fizemos o choro Lamentos e Benguelê, para o qual o mestre trouxe o molho do som cubano e mostrou quão próximas são as músicas brasileira e a cubana;, diz o bandolinista.
Choro e valsa
Em Roma, Hamilton juntou-se ao pianista Stefano Bollani, ídolo da música instrumental italiana, para registrar no disco Seu Lourenço no vinho e Odalisca. ;O Stefano, com quem dividi o palco em festivais europeus, descobriu Pixinguinha ouvindo a valsa Rosa, com a cantora portuguesa Maria João, em 2006.; Na mesma viagem, o músico brasileiro foi ao encontro do acordeonista francês Richard Galliano em Paris, e lá gravaram o choro Ingênuo e a valsa Agradecendo. Há três anos, numa turnê pelo Brasil, os dois tocaram em Brasília, na área externa do Museu da República.
Hamilton observou que o pianista português Mario Laginha ; outro que já se apresentou para os brasilienses ;, adicionou o sentimento e o lirismo lusitano à valsa clássica Rosa, que gravaram em Lisboa. Com o também pianista cubano Omar Sosa, ele dividiu a recriação de Yaô, em um estúdio do Rio de Janeiro.
Um dos embaixadores do jazz, o trompetista norte-americano Winton Marsalis, ao ser apresentado à obra de Pixinguinha, segundo Hamilton, afirmou: ;Ele é a personificação de tudo o que queremos num grande músico e em profundidade de alma e sentimento;. No CD, os dois tocam na faixa Um a zero, gravada em Nova York, no Jazz at Lincoln Center. ;Ao trazer para esse choro elementos do ragtime, Marsallis disse que foi uma das transposições mais difíceis que fez para o trompete.;
Com o pianista brasileiro André Mehmari ; juntos, os dois haviam lançado os CDs Gismonti Pascoal e Contínua amizade ; Hamilton fez Capricho de Pixinguinha e Naquele tempo, ;uma das minhas preferidas na obra do mestre;. Para fechar o repertório, o bandolinista reuniu-se com a flautista francesa Odette Ernest Dias e ao saxofonista Carlos Malta em Carinhoso.
Mundo de Pixinguinha
CD com arranjos e adaptações de Hamilton de Holanda. Lançamento do Programa Natura Musical. Preço: R$ 32.
Crítica
Ele se transforma em outros
Como Pixinguinha é familiar! O leitor já assobiou uma de suas melodias sem se dar conta. Aposto uma pataca. Aí chega Hamilton de Holanda com poderes de desfazedor e nos liberta dos automatismos, nos apresenta ao moleque Pizinguim, aquele que tocava Canção da odalisca nos cabarés. Hamilton foi mais longe, entregou Um a zero de bandeja para Wynton Marsalis. O jazzista americano viu que o tema era que nem terno de alfaiate ; vestiu e saiu andando. Idem com Chucho Valdés, cheio de complexidade rítmica em Lamentos. E aí a gente fica de boca aberta, ouve Carinhoso como se fosse a primeira vez. (Gustavo Falleiros)