Quem atravessa apressado o Setor Comercial Norte em direção à Rodoviária e passa pelo Edifício Number One sempre se dá conta do enorme leque vermelho de pontas delgadas que se impõe sobre o caminho. Assim como os moradores do Edifício Essence, em uma das quadras nobres do Setor Sudoeste, percebem a escultura em aço, ao lado do elevador. No Jardim Mangueiral, perto da Papuda, não há como desviar o olhar das esculturas plantadas em cada entrada do condomínio. O empreendimento é novo e isso ajuda: há pouca interferência visual, por enquanto, ao redor das obras. Já no centro empresarial do ParkShopping, ainda não inaugurado, poucos têm acesso à esfera vazada que repousa sobre o espelho d;água, mas não há como ir ao Sebrae, na Asa Sul, e não notar o imenso painel de azulejos na praça central do prédio, inaugurado em 2010.
A presença de obras de arte torna os caminhos mais confortáveis e é obrigatória em todo prédio construído nos últimos 13 anos. Para tirar o habite-se, documento que permite a utilização do espaço, a Lei 2.365 determina que todo edifício ou praça com área igual ou superior a mil metros quadrados deve conter uma obra de arte. Aprovada em maio de 1999, a lei foi celebrada entre os artistas plásticos da cidade. A expectativa era de que movimentasse o mercado e proporcionasse a oportunidade de trabalhar e viver da própria arte.
Mas, como diz o artista Ralph Gehre, nem tudo que se pendura na parede pode ser considerado arte. E nem sempre o tamanho das obras é proporcional ao valor investido no empreendimento. Essas pequenas disparidades fazem alguns artistas lamentarem certos aspectos da lei. ;É a questão do custo-benefício: às vezes, o investimento é enorme e o valor da obra é pequeno;, aponta Paulo Mac Dowell, autor de duas esculturas em aço para as portarias do Jardim Mangueiral. Para ele, a necessidade de uma legislação sobre o tema é um sintoma triste. ;O país será outro no dia em que não precisarmos mais disso. Mas, no estado cultural em nos encontramos, a lei é favorável;, avalia Mac Dowell. Como não foi estipulado um valor mínimo para as obras, as construtoras podem adquirir trabalhos a qualquer preço.
Valorização
O casamento entre arte e arquitetura é tão antigo quanto as pinturas rupestres nas cavernas que serviram de casa nos primórdios da humanidade. Em Brasília, a combinação ganha um sentido especial, já que a cidade foi concebida sobre pilares que articulam discursos das duas áreas. ;Além disso, a arte melhora a autoestima e o aspecto espiritual, e também promove o turismo, por isso valoriza o empreendimento;, diz Mac Dowell.
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