Entre as atrações mais festejadas pelos leitores de Mojo estão os CDs temáticos que seus editores anexam como brinde da revista. Produzidos com esmero a partir da colaboração voluntária de músicos da velha e da nova geração, os CDs bônus da Mojo já chegam ao mercado com status cult, tornando-se itens disputados a tapa entre os colecionadores. Foi o que ocorreu com as regravações integrais dos antológicos The wall/The dark side of the Moon (Pink Floyd), Harvest (Neil Young), Pet sounds (Beach Boys), Sgt, Peppers... /The white album (Beatles), Sticky fingers (The Rolling Stones), Power, ;corrruption & lies (New Order), Rumours (Fleetwood Mac) e The songs of Leonard Cohen (Leonard Cohen) ; prática que na edição de agosto Mojo retoma com a revisão completa do álbum With the Beatles, com cada uma de suas 14 faixas executadas em versões inéditas e na mesma sequência estabelecida para o álbum original.
Covers bacanas
Despretensiosa, mas de uma sinceridade a toda prova, a edição do rebatizado We;re with the Beatles revê o clássico lançado pelo Fab Four em 1963 de modo a não deixar dúvidas de que, se com o prévio ;Please, please me; o então iniciante quarteto de Liverpool apresentara um frenético cartão de visitas, sua poderosa sequência era a confirmação sônica de que Paul, Ringo, John e George realmente haviam chegado para ficar. Hoje, quando a gravação comemora meio século () de sua chegada às lojas no formato de vinil de 12 polegadas, o remake provido pela Mojo confirma de modo peculiar que o material lá contido era bem mais do que alguns céticos acreditavam ser mais outra amostra do tal iê-iê-iê, um parvo modismo juvenil que, em questão de meses, talvez semanas, estava fadado a desaparecer, sem deixar rastro.
Dividido entre temas de Lennon & McCartney, uma solitária contribuição de George Harrison e releituras de hits compostos por Chuck Berry, Smokey Robinson e Berry Gordy, entre outros, With the Beatles serviu aos fãs com um delicioso coquetel de soul da Motown, baladas ao modo das girl-groups da época, canções pinçadas de musicais da Broadway, r, pop e rock;n;roll. Projetado para o novo milênio, We;re with the Beatles ressurge ostentando timbres inauditos, arranjos ousados e um frescor, digamos, inesperado, mas plenamente condizente com a natureza indelével das grandes obras dos Beatles.
Entre os destaques do disco, impossível não se surpreender diante do abandono ska-soul ao qual o grupo James Hunter Six se entregou a ;I wanna be your man;; da lisergia metafuturista a trespassar os etéreos vocais de Eva Petersen (uma estrela em ascensão que deve estourar logo) e a guitarra technicolor de Will Sergeant (leia-se Echo & The Bunnymen) na harrisoniana ;Don;t bother me;; do assombrado êxtase que tomou o projeto Taken By Trees quando releu a romântica ;Till there was you;; do embalo dançante provido por uma sanfona () que emprestou uma aclimatação digna dos mafuás que infestam a zona boêmia de New Orleans em meio ao arranjo cajun-zydeco proposto para ;Please, mr. postman;; da fantasia barroca tramada entre acordes de harpa, piano e synths pelo ;holandês voador; em ;You really got a hold me; e do minimalismo espectral com que Marc Rigesford ; também um nativo de Liverpool ; revisitou (sob o codinome Magic Arm) a balada Not a second time. Enfim, palmas para a equipe da Mojo, pois ela merece, já que a audição de ;We;re with the Beatles; é sinônimo de diversão garantida para velhos e novos fãs do eterno Fab Four.