Originalmente lançado em 1938, Murphy ainda se reinventa: chega às livrarias brasileiras em nova versão caprichada da Cosac Naify. A editora paulista foi pra lá de feliz em todas as escolhas. A começar pelos aspectos visuais. A tipologia grandona que toma conta da capa a destacar o nome do escritor irlandês. As páginas pintadas de preto nas laterais. As folhas brancas com 90 g/m;. As fontes Farnham e Tungsten. Tudo isso faz com que a leitura do texto traduzido por Fábio de Souza Andrade seja uma experiência agradável.
No miolo, pode-se lapidar o tesouro precioso. Vê-se um Beckett começando a arquitetar as construções literárias que o levaram a receber o prêmio Nobel em 1969: uma predileção à solitude, as reflexões filosóficas, um protagonista esquisitão que lida com questionamentos absurdos, as decepções de uma existência que pode até ser bacana, mas, na grande maioria das vezes, não o é.
O leitor é conduzido até as entranhas desse anti-herói com crises cardíacas. Um tipo que se sente mais à vontade dentro das limitações de um aposento obscuro, mas que não esquece dos impulsos prazerosos que o aguardam do lado de fora. Não surpreende que consiga trabalho num hospício e que seja noivo de uma prostituta. Como disse Neary, enigmático personagem do livro, ;só o acesso aos lugares mais remotos permite a plenitude;. E em Murphy podemos encontrar as longínquas peculiaridades da psique beckettiana.
Murphy
Samuel Beckett
Cosac Naify
256 páginas
R$ 36