O sentimento de elevação foi o graal da música sacra. Mas a busca arrefeceu entre os modernos, interessados em outras paisagens sonoras. O catalão Federico Mompou (1893-1987) foi uma exceção à regra. Sua leitura do impressionismo francês e das vanguardas conduzia preferencialmente ao silêncio contemplativo. Além disso, era pessoa muito introvertida, o que contribuiu para a divulgação restrita de sua obra. Agora, circunstâncias especiais fazem com que o compositor tenha uma porta de entrada no Brasil com o lançamento de Jasmim, novo trabalho dos veteranos Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, com a participação especial do percussionista brasiliense Amoy Ribas.
Peranzza, que foi um aluno informal do mestre espanhol nos anos 1970, colheu seis temas preciosos do ciclo Impresiones íntimas, pinçou outros seis de lavra própria e fez arranjos que privilegiam o duo de piano e instrumento de sopro. Senise deu trato à bola, elegendo a flauta ou o saxofone de acordo com o que a partitura insinuava. Foi processo delicado, revela o músico.,
O capricho artesanal transparece ainda na escolha do "estúdio". Jasmim foi gravado em dezembro de 2011 em poucas sessões na Igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso, no Rio de Janeiro - dica soprada pela cravista Rosana Lanzelotte, que ama a acústica do lugar. "Lá tem aquele reverb que deixa tudo mais mágico", aprova Senise. A arquitetura do templo, com seus famosos retábulos, também contribuiu para criar a atmosfera buscada. Mas o mundo lá fora cismava em bater à porta. ;Às vezes, eu estava no finzinho do solo e bééé (imita som de sirene)", conta o flautista e saxofonista. Vazaram também sons de madeira rangendo, cristais vibrando, carrilhão tinindo - , mas esses aí eram bem-vindos.
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