Da distinção como uma das ;últimas aristocratas; das telas até o galgar da mais alta patente do sexo, Marilyn Monroe poderia ocupar um pedestal no livro escrito há 40 anos por Norman Mailer. Mas, responsável pelo sacolejo do jornalismo, com pegada literária, ele foi avesso à acomodação. Na condição de testemunha da degradação norte-americana, em que ;perversos polimorfos; se incrustavam até entre republicanos, o vencedor de dois prêmios Pulitzer podia desautorizar afirmações da biografada (como a de que teria sido violentada aos sete, oito anos), mas, com estilo, sabia engrossar o caldo de deleites.
Numa página, reproduz o senso-comum que a tachava de ;vagabunda que ;esfrega o sexo em sua cara;;. Pondo em dúvidas inclusive a constância do asseio da estrela, Mailer lança mão de anatomia, em dado momento, para compor a atriz de dentes salientes e queixo pontudo, cujo nariz dava ares de ;focinho de porco;.
O poeta Norman Rosten, autor de biografias da diva é citado, referendando a dedicação da amiga capaz de atos como gastar muito, a fim de ;salvar uma árvore danificada;. Por dentro, palpitava o coração com a aparência do ;rosto de um boxeador;, na analogia do mesmo autor de A canção do carrasco. Com a avó morta em manicômio, e a mãe decrépita, a intérprete é materializada em prisma que difere dos padrões de ;vítima sensível e angelical; e de ;aleijada emocional;.
Mailer não poupa deslizes da deusa como o da necessidade sistemática de ;atrair piedade; ou a da capacidade que ela teve de, publicamente, recriminar a penca de ex (James Dougherty; o monstruosamente ciumento Joe DiMaggio, ;feito para a cama dela;; e Johnny Hyde, famoso descobridor de Esther Williams e Rita Hayworth).